Afastei-me de um salto dos braços compridos e disformes. A criatura negra que criara parecia resistente a qualquer dano físico. E contudo não podia arriscar um ataque demasiado devastador e perder o Geass. Não, teria de ser inteligente, não podia ganhar de outra forma.
Desviei-me da chicotada violenta com um shunshin, apenas para me voltar no momento seguinte. Ergui o braço e tentei eu próprio chicoteá-lo, não com o braço, mas com a torrente de serpentes que me emergiram da manga. “Aquilo” não se preocupou em desviar, o seu disforme vulto desfez-se em pequenas formas negras, apenas para reaparecer no momento seguinte.
- Belo… - praguejei entredentes. – Tentemos de novo.
Voltei-me violentamente e tentei ler os medos da criatura. Contudo, ou esta nada temia, ou agia somente com base em instinto, ou ambos, o que me pareceu, na altura, infinitamente mais assustador.
- Obedece-me! – ordenei em voz alta, tentando a ilusão. De pouco serviu, contudo, o inimigo continuou a chicotear o ar cegamente com os seus braços disformes e negros.
Afastei-me com um rodopio leve saltando sobre uma árvore e erguendo os braços para o céu enquanto deixava o chakra correr ordeiramente. O céu iluminou-se num clarão vermelho e por momentos a criatura parou, olhando estupidamente a bola de fogo que descia. Não esperava que se impressionasse demasiado tempo, não. Em vez disso surgi à sua frente num flash (teleporte e não shunshin) com a mão envolta em relâmpagos. Larguei uma kunai carregada de electricidade e usei o seu campo eléctrico para me impulsionar. Consegui agarrá-lo pela cara e levá-lo comigo, esmagando a sua cabeça contra uma árvore. Simultaneamente deixei os raios rebentarem, pulverizando qualquer coisa que restasse.
O ser negro cambaleou e caiu com um estrondo, enquanto as partículas negras se voltavam a concentrar e a formar a cabeça.
- Azar o teu – disse em voz alta enquanto me afastava formando selos rapidamente. Coloquei ambas as mãos no chão com um baque surdo, deixando o chakra fluir pelo solo – Kuchiyose: Aian Maiden!
O gato metálico emergiu do solo despedaçando metal e rocha à sua passagem e no seu ímpeto exagerado, encarcerou a criatura negra. Caí suavemente sobre ambos os pés. Sabia ter um breve descanso por agora, mas não sabia quanto tempo duraria, dadas as pancadas vindas de dentro do gato. Claro que não pude preparar nada de elaborado, mas não iria perder uma batalha por mera estupidez!
Agora que pensava nisso, embora parecesse imune ao Geass, a criatura parecia ter-se assustado com a bola de fogo, ou seja, ainda que pouco e talvez duma forma rudimentar, pensava. Podia ser apanhada em ilusões e sabendo isso, teria apenas de relembrar o que já tinha esquecido, que os meus poderes não se resumiam aos olhos.
Ergui uma mão com várias linhas shinobi agarradas a shurikens e lancei-os contra as árvores, formando uma perfeita gaiola em torno do gato que cada vez parecia mais amolgado. A outra mão saiu do bolso envolta em chakra, com várias facas a flutuarem em fila ao seu redor. As kunais deslizaram pelos fios, completando a gaiola. Pendiam como folhas prestes a cair à mínima brisa outonal.
Concentrei chakra na mão e agarrei um pouco de terra arenosa que ergui bem alto. Foi então que as portas metálicas do Maneki Neko se abriram e a criatura negra saltou sobre mim com uma agilidade felina. Soprei os grãos de terra que se espalharam levemente, na brisa, agora transformados em pétalas purpúreas. Em seguida esforcei-me por controlar a vontade da criatura e com um passo de chakra e outro de habilidade, desfiz-me eu próprio em pétalas. As pétalas dançaram em torno dele, que olhava confuso os pequenos turbilhões. Atrás da árvore sorri, o clone desempenhava a sua função como esperado, embora esta última ilusão fosse minha.
Movi um dedo e uma das harigane subiu. A faca nela presa deslizou ao longo do fio e roçou levemente a pele da criatura. Cordas negras saltaram da terra e prenderam-lhe os braços. Em seguida, o meu clone turbilhonou à sua volta, contorcendo-se como uma serpente, envolvendo-o num abraço letal. Saltei do meu esconderijo e puxei todas as linhas que tinha preparado. A saraivada atingiu clone e inimigo, dando-me tempo suficiente para o fim.
Como previ, quedou-se imóvel enquanto o seu peito regenerava lentamente. Parecia ter dificuldade em mover-se enquanto se curava, pelo menos aí estava certo. As minhas mãos moveram-se rapidamente numa sequência de selos, enquanto apostava o meu chakra contra a sua consciência animalesca. As raízes surgiram furando o solo sob nós e a criatura viu-se aprisionada uma vez mais, soltando um ruído surdo. A única forma de garantir que ficaria quieto era aprisioná-lo duas vezes. A primeira tentativa, com duas ilusões, falhou. Contudo, aprisioná-lo por ninjutsu é algo fora do meu alcance. Então decidi que a única forma de proceder seria Genjutsu e algo mais, não ninjutsu, está claro. A única forma seria usar este tempo de regeneração contra ele.
Torci o pulso num puxão violento e formei as pequenas chamas purpúreas na ponta dos dedos. Corri para o alvo enquanto os últimos fragmentos de pele se voltavam a formar e atingi-o com toda a força na barriga. Não se desfez, ao invés disso pareceu cuspir sobre o meu ombro. Em seguida soltou um rugido gutural enquanto se encolhia.
- Selim… Puraido! – rosnou numa voz grotesca, as suas primeiras palavras, antes de tombar no chão.
O pouco que sabia sobre o Edo Tensei resumia-se à sua fraqueza contra Fuuinjutsu. Claro que não o selaria por muito tempo, talvez desaparecesse, ou talvez o matasse. Não queria saber, não poderia remover os olhos dele naquelas condições, teria de os conquistar. Juntei as pernas numa cauda e deslizei pela floresta numa aparente fuga durante algumas centenas de metros. As marcas deveriam deixá-lo suficientemente confuso, por algum tempo.
Só me restava isso, vencer. Ganhar de volta o meu olho e para isso precisava de treinar. Era nisso que pensava quando me ergui no ar sobre quatro kunais e deslizei pelo céu, para longe.
Assunto: Treino 26 - Fuuin 
Dom 27 Nov 2011 - 19:55
