O ruído dos furiosos golpes contra a madeira assustavam os animais que precisavam tomar água à beira do pequeno lago, onde mais uma vez ela treinava. Katsume estava ofegante, mas sua raiva era maior. Sentia raiva porque exatamente naquela manhã, quando se preparava para encontrar seu amado, fora interpelada por seus pais. Eles a haviam intimado a terminar o namoro que até aquele momento era secreto. Só então soube que alguns de seus vizinhos - que a viram em companhia do garoto - contaram a eles sobre seu romance com um perigoso e "malfadado" Endo. Isso não agradaria nenhuma família em Kirigakure... -
Muito menos à nossa estirpe! - Imitava com desdém as palavras de sua mãe enquanto esmurrava o tronco da árvore mais uma vez, fazendo-a balançar com sua força. O criado que a acompanhava a mando dos pais nada fazia, apenas lia alguns jornais com notícias ultrapassadas e as vezes seguia seus passos com um olhar de tédio ao escutá-la reclamar por algumas horas o mesmo fato. -
Como se atrevem! - Gritava furiosa após tomar grandes goles no seu cantil.
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Senhorita Katsume! A senhora deve no mínimo respeito com seus pais. - Respondia o criado.
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Já sou "grandinha" o suficiente para tomar minhas decisões! - Gritava Katsume, virando-se para a árvore mais uma vez.
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Não. Não é. Você ainda é jovem e não sabe as consequências que esse namorico poderia trazer. - Apaziguava o homem.
Katsume preferiu não responder. Afinal, eles nunca entenderiam o poder de seu sentimento. Até ela mesmo se admirava com a capacidade de amar tanto um garoto que quase ninguém conhecia na academia. Mas o sorriso de Kimura e seu olhar ingênuo lhe abriram o coração, quando deixou de lado toda hesitação. Ou iria até o fim, ou morreria tentando. E essas palavras lhe entristeceram. Não por dúvida de seu sentimento, mas sim pelo fato de não poder tocá-lo sem correr o risco de morte. Ela se lembrou das noites que passou estudando a composição de venenos e a forma para resisti-los, mas com a complexidade na composição de cada um, achar a cura lhe parecia uma missão para sua vida inteira. Principalmente porque não havia relatos suficientes sobre as habilidades dos membros do Clã Hebi. Entretanto, lá no fundo, sabia que esta resistência de seus pais com seu namoro só acendia a vontade de ficar junto de seu amor. -
Mas eu não vou desistir! - Gritou ao esmurrar a árvore com todas as suas forças. -
E então, vai reclamar novamente? - Continuou, de maneira desafiadora.
Esperou uma resposta seca, mas esta não veio. Somente o silêncio. Katsume estranhou o fato e logo se virou para saber onde seu criado estava. Mas ele ainda estava lá, no mesmo local, caído de costas na relva. Inerte. A garota temia pelo pior, poderia ter sofrido algum desmaio, mas logo parou bruscamente quando conseguiu ver o brilho de uma senbou enterrada no braço do homem. A ferida tinha veios negros, o que indicava que a agulha era venenosa, então saltou várias vezes para conseguir ver toda a margem do lago, e quando deu seu último passo, esbarrou-se com uma mulher. Sua máscara branca com detalhes azuis trazia a marca de Kirigakure emsua testa. -
O que está acontecendo aqui?! - Gritou Katsume assustando-se, enquanto dava mais uma pirueta para escapar dos braços da Anbu. Mas rapidamente foi alcançada e jogada violentamente contra uma árvore. Estava ofegante e a Anbu já lhe encostava outra senbou na barriga. Foi então que se lembrou do episódio de sua fuga, em que fora alvejada pelo mesmo projétil, quando a ferida da perfuração tinha o mesmo desenho negro sob a pele.
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Saiako! O que você quer comigo? Solte-me agora! - Esbravejou.
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Garota esperta. Não vai cumprimentar sua cunhada? - Bricou com a voz abafada sob a máscara.
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Largue-me! O que você quer?! - Respondeu Katsume rispidamente, soltando-se da imobilização.
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Direto ao assunto... - Retrucou Saiako, afastando-se em pensamento.
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Preciso que você entregue isso a Kimura. Caso aconteça alguma coisa comigo. - Falou a Anbu virando-se, estendendo o braço com uma foto antiga à mão. Katsume ficou surpresa com o pedido, pois em seus encontros Kimura sempre comentara sobre as atrocidades que sua irmã fazia com ele, somente para vê-lo sofrer. E agora, Saiako estava a sua frente, parecendo fragilizada com alguma coisa. Sua voz fraquejava. Algo estranho aconteceu com ela. Assim, mesmo receosa, resolveu pegar o papel antigo e sem dizer uma palavra, olhou para a foto já amarelada pelo tempo. A princípio ficou sem entender quem eram aquelas pessoas na foto, até que reconheceu os dois, e logo percebeu o impensável. Katsume sentiu medo e ao mesmo tempo alegria. E quando procurou por Saiako, para lhe agradecer, esta já havia sumido entre as folhagens. A garota precisava digerir todas as ideias que lhe vieram à cabeça. Todo o sofrimento logo passaria. Então olhou novamente a foto, mas agora em seu verso, onde estava escrito:
- Citação :
37.771008, -122.41175
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