Kimura tremia e suas mãos suavam à medida que a hora marcada se aproximava. Decidiu por aguardar com grande antecedência para evitar qualquer atraso, chegando quase uma hora antes. O genin havia vestido seu melhor quimono e pegara uma loção pós-barba de seu pai, passando-a no rosto na esperança que a garota percebesse que ele era maduro. Pequenas ilusões infantis. Havia trazido consigo uma pequena rosa vermelha que havia comprado na floricultura enquanto se caminhava. Estava ansioso ao chegar ao local. O parque estava quase vazio. Exceto por algumas mães que levavam seus bebês para passear, somente o vento ajudava-o com o banquinho do balanço vermelho. Estava sentado, em silêncio, assustando-se ao menor barulho de passos a sua volta. "Será que está na hora." - Ele pensava.
Como um capricho do destino, Katsume dobrou a esquina assim que terminou de pensar na frase. Ela estava linda como sempre. Desfilava calmamente entre os canteiros floridos, com seu vestido branco adornado com bordados na forma de pétalas de rosa. Seu lindo cabelo negro revoava com a brisa. Após admirar aquela cena, Kimura encontraram seus olhos aos dela. Katsume deu um leve sorriso ao encontrá-lo. Tudo estava perfeito. Kimura, sempre tímido, desviava o olhar na aproximação de sua amada, com receio de que ela o achasse desesperado por atenção. Para o genin, sua aproximação havia demorado uma eternidade. O perfume de Katsume congelou seu estômago em nervosismo. Até que ela sentou a seu lado. Kimura então estendeu a mão, entregando a rosa.
- Que linda. Obrigada. - Disse, com seu sorriso felino. - Olá, Kimura, tudo bom?
- Er.. Estou bem. E você? - Respondeu nervoso, enxugando suas mãos na calça do quimono.
- Estou bem.
Os dois garotos balançavam em seus balanços sem dizer uma palavra por alguns segundos, logo, para quebrar o gelo, Katsume puxou Kimura para o banco de madeira ao lado de um canteiro com frondosas árvores. As mãos do pálido genin, ainda geladas e suadas, deixaram-se sob o controle da garota, que sorridente sentou-se, puxando-o para que sentasse a seu lado. Katsume então puxou conversa. Perguntava sobre como seria o futuro e sobre a família de Kimura. Contou que seus pais nunca permitiriam que ela namorasse tão cedo. "Mas, às vezes, não é bom obedecer aos pais para se ganhar independência." - Completou. Aquelas palavras alegraram Kimura, que, agora se sentindo mais confortável com a opressora beleza de Katsume, entretanto, ainda escutava mais do que falava.
Com suas mãos ainda abraçadas, Katsume gaguejou e perguntou-o se ele já havia beijado alguém. Mais uma vez Kimura gelou, sem resposta. Kimura então olhou nos olhos de Katsume, e com um impulso desajeitado, inclinou seu corpo em direção à garota. Vendo isso, a jovem reagiu. Encontrando-o no meio do caminho, seus lábios se tocaram num ligeiro beijo. O coração de Kimura quase parou com a cena. Seus desejos de infância, sua ansiedade e o preconceito por sua condição, nada disso importava naquele momento. Apenas queria que o tempo parasse ali mesmo. Seria sua definição de céu. De paraíso. Sua alegria estava completa. Quantas noites que ele havia perdido ao pensar em como seria beijá-la. Quantas noites sufocantes em que ele passava em frente a sua casa na esperança de vê-la, e agora, lá estava ela.
- Quer namorar comigo. - Sussurrou Kimura, afastando a boca.
- ... Sim. - Respondeu ofegante.
Com essa resposta, Kimura afastou-se mais um pouco como se não acreditasse naquilo, mas o rosto vermelho de Katsume afirmava que aquilo tudo era real. Logo Katsume separou-se e, soltando a mão de Kimura, despediu-se com um sorriso carinhoso e saiu em direção a sua casa. Então, quase sumindo na esquina, ela acenou: Amanhã no mesmo horário, tudo bem? Confirmando com a cabeça, Kimura a viu sumir e só então pôde respirar normalmente. Aquela seria a melhor tarde de sua vida. A beleza do parque tornou-se mais límpida. O canto dos pássaros soava como liras de verão e, ainda extasiado com o momento, Kimura caminhou de volta para casa. Sua mãe percebeu que algo acontecera, logo perseguindo o genin interrompendo sua caminhada até a sala de jantar.
- Kimura... Aconteceu alguma coisa filho? - Perguntou a Sra. Endo, já sabendo da resposta.
- Sim, mãe. Uma coisa maravilhosa. - respondeu o genin, ainda nas nuvens.
A Sra. Endo tornou-se séria. Estava mais pálida como de costume, e gaguejou antes de conversar. "A sua cerimônia está muito próxima. Se você realmente a ama, deve deixá-la." - Disse. Sem entender, Kimura preocupou-se com a seriedade de sua mãe. Sabia que a cerimônia estaria próxima, estaria pronta para ela a tempo. Seu namoro não o atrapalharia. E foi então que sua alegria caiu por terra. Pois, seu sangue seria alterado por veneno, juntamente com sua saliva e lágrimas, não poderia amá-la, pois fazendo isso, ela morreria. Sentiu seu coração ser perfurado por uma agulha fria. Não sabia o que fazer. Então, sem dizer uma palavra, resolveu subir para seu quarto, onde pensou sobre a tradição e o amor. Quando estas duas coisas se chocam, corações são despedaçados. De um jeito ou de outro.
FIM