- Como é que ele está hoje? - Perguntou uma voz rouca, seguida por uma tosse intensa e preocupante.
- Os sinais vitais estão normais, a pele não revela graves queimaduras e não houve incidentes. O corpo, contudo, ainda não aceitou as células! - Relatou uma voz feminina e bastante calma. Era Shugo, que mantinha o seu olhar ocupado com os relatórios constantes que surgiam no monitor à sua frente.
O velho optou por não comentar, deixando-se relaxar, ajoelhado em frente a um molho de chávenas e um bule que deixava um fino fio de fumo escapar pelo seu cano. Shugo desviou, por breves momentos, o olhar do ecrã, analisando-o de soslaio e vendo que meditava calmamente.
- Quando vamos fazer um novo teste? - Perguntou a Kumokira, voltando a direcionar toda a atenção para os números - Tenho medo que ele se volte a descontrolar…
- Acho que será mais propício quando ele se recuperar dos ferimentos da última tentativa. Caso ele se volte a descontrolar aplicamos mais anestesia e esperamos que ele se controle. Pensei que ele fosse forte o suficiente para aguentar com o processo… - Respondeu Kondo secamente.
- O senhor devia de ter usado cobaias antes de experimentar no seu melhor triunfo. - Retorquiu a adolescente, preocupada com a saúde do experimento, sem saber a razão por tal sentimento - Depois de ter perdido a sua família, ainda lhe fomos fazer isto…
- Shugo! - O velho levantou a voz de rompante, fazendo que ela se assustasse tenuemente - Não quero arrependimentos e muito menos as tuas opiniões quando eu não as peço. Decidi usá-lo como a primeira cobaia, ciente de que ele era capaz de aguentar. Não é o primeiro a ser submetido a este tipo de experiências, muitos outros sobreviveram portanto ele vai sobreviver. Uma semana passou-se e ainda está vivo, confio que assim permanecerá!
A rapariga suspirou, consciente que, mesmo que mudasse a forma de pensar de Kondo, não conseguiria agora reverter o processo ao qual submeteram o experimento. Estava tudo feito, as células introduzidas e, por muito que quisesse, nada mais podia fazer. Acreditou nas palavras do Oráculo e pensou que iria fazer de tudo para deixar a cobaia viva.

Abri os olhos, muito devagar e com calma, tentando perceber onde estava. Estava tudo escuro e não conseguia ver nada além de um manto extremamente escuro, iluminado exclusivamente por um único feixe de luz solar, que entrava por entre as grades da única janela daquele local. Tentei mexer o braço, mas depressa senti o frio que os grilhões me causam nos pulsos e tornozelos, encontrava-me suspenso no ar, totalmente preso e impossibilitado de qualquer tipo de movimento. Debati-me, com a ideia que a minha força seria superior à resistência das correntes, partindo-as com fortes esticões. Todavia, o esforço era fútil e decidi parar quando a pele começava a ficar vermelha e alguns arranhões surgiam nos locais presos pelo ferro.
Deixei a cabeça tombar e suspirei profundamente. Não era só a luz que entrava pelas grades da janela, o frio acompanhava-a e esse mesmo frio arrepiava-me o tronco nu, contribuindo para o meu desejo de arrancar as correntes fora e afastar-me o mais depressa possível do ambiente horrível que paira à minha volta.

Senti-me exausto fisicamente e incómodos ao longo do tronco. Tinha vontade de coçar-me e tentei, algumas vezes, chegar a esses locais com a boca, cotovelos ou mãos, para aliviar os incómodos, que aos poucos se transformavam em dores ainda fracas. A luz proveniente da janela intensificou-se ligeiramente e então pude ver as queimaduras à superfície da minha pele e como todo o meu corpo estava vermelho. Lembrei-me, então, do que me estava a acontecer e depressa senti medo, pois aquela comichão, que agora era uma dor fraca, não me era estranha.

Um borbulhar verde formou-se nos meus pulsos e tornozelos, corroendo o metal dos grilhões em segundos. Depressa me senti, mais uma vez, livre como um pássaro, embatendo de joelhos contra o solo. Fechei os olhos e rangi os dentes devido à dor, mas não deixei que ela impedisse de levantar-me.
Uma tontura confundiu-me os sentidos e cambaleei para o lado, apoiando-me com a palma da mão sobre a parede mais próxima. Dessa mesma palma surgiram mais bolhas verdes, que corroeram a parede até formarem um pequeno buraco por onde a minha mão escorregou. Tinha o antebraço do outro lado da parede e o resto do corpo apoiado sobre ela, enquanto olhava perplexo para o que acabara de acontecer.
Afastei-me rapidamente, assustado, e o frio ainda não desistira de me assombrar. Senti uma injustificável raiva que foi acompanhada por uma nova tontura que fez-me ajoelhar no solo, a suar. A pele das mãos ardia-me intensamente, ficando avermelhada e deixando que vapor emanasse dela.
- O que está a acontecer? - Perguntei-me, olhando para as mãos avermelhadas que deixavam um fluído verde escorrer até chegar aos cotovelos, provocando-me incontáveis e incontroláveis dores que faziam-me gritar e contorcer-me.
Tentei levantar-me, mas as tonturas eram constantes e não consegui evitar de me apoiar com as costas na parede com a janela. Uma forte vontade de vomitar surgiu subitamente, e acabei por fazê-lo em cima da superfície metálica que me impedia de escapar. Assustei-me quando reparei que regurgitava um líquido verde, igual ao que escorria pelas minhas mãos, e que esse líquido derretia a parede em segundos, criando um pequeno buraco que deixava uma intensa luz entrar. Caí no chão, com o estômago às voltas e os braços a arder, mas mesmo assim rastejei, passando pela saída acidentalmente criada.
No meu olhar refletia-se a vontade de escapar.

- Kondo-sama! - Gritou Shugo quando um dos ecrãs começara a piscar num tom avermelhado -Ninjas de Kirigakure entraram na nossa área de chakra. São um grupo de seis ANBU`s e parece que têm a intenção de invadir o local!
- Como é que eles descobriram o nosso esconderijo? - Questionou-se o Oráculo num tom alarmante. Ergueu-se de imediato da sua posição de meditação e reuniu ambas as mãos - Vamos ter de recuar, não estou apto para uma luta e tu não vais conseguir atrasá-los!
A rapariga rangeu os dentes, insultada, e depressa desembainhou a sua espada de bronze.
- Nós conseguimos derrota-los, senhor. Deixe-me tentar, por favor!
- Shugo! Para de ser tão desobediente, cria o círculo e vamos embora daqui! - Gritou o velho, ofendido pela falta de obediência que a sua subordinada tem revelado nos últimos tempos.
Contra vontade, a adolescente apressou-se a desenhar um círculo prateado com a sua espada. O Oráculo antecipou-se, entrando nele e desaparecendo. A rapariga decidiu segui-lo, mas não antes de dar uma última olhada para o ecrã que vigiava o cubículo onde Katsu se encontrava preso. Arregalou os olhos ao reparar que ele já não se encontrava lá.
- Boa sorte… - Limitou-se a dizer, antes dela também entrar no círculo prateado.

O buraco guiou-me até um corredor longo e sombrio. A luz que o iluminava era a mesma que iluminava o quarto anterior, pequenos raios de sol que entravam pelas ocasionais brechas do teto. As paredes e o solo eram exclusivamente rochosos e davam sinais de desgaste pela escavação que neles fora feita para se ter criado aquele corredor. Concluí de imediato que estava numa caverna, um sistema de túneis ou algo relacionado, e que alguém me havia aprisionado.
Pensei imediatamente em matar quem quer que me tivesse capturado. Esse desejo rapidamente se desvaneceu quando voltei a sentir as intensas dores no estômago e a irritação na pele. Contorcia e agarrava-me em tudo o que fosse suficiente resistente para aguentar o meu forte aperto, porém, tudo o que eu tocava corroía-se de imediato.
Sentia-me gradualmente mais fraco. Não aguentava tanta dor e, colmatada com a pouca vontade de viver, decidi entregar-me à morte, pois não havia razões para eu sair dali.

Ouvi múltiplos passos ao fundo do corredor. Olhei em frente mediante a mão direita apertava a barriga fortemente e vi uma mescla de vultos a aproximarem-se de mim numa veloz corrida. Os vultos começaram a andar às voltas e senti-me tonto de novo. Os vómitos voltaram a subir-me à boca, mas desta vez não cedi à pressão. O meu corpo gastou as últimas forças e depressa senti a minha cabeça a pousar violentamente contra o solo, os olhos a fecharem e o céu a ficar negro…