O burburinho de vozes, tão característico daquele hospital, tinha-se tornado a sinfonia que ocupava a vida de todos os que lá trabalhavam. Graves, agudas, altas, baixas. Todas tão iguais e tão diferentes, como qualquer pessoa ali presente.
- Kristea! – chamou Haruhi, uma das médicas coordenadoras daquela ala hospitalar. Olhou por cima dos ombros rapidamente à procura da chuunin, fazendo baloiçar inconscientemente o seu cabelo loiro arruivado, enquanto observava um pequeno rapaz.
Kristea surgiu poucos segundos depois à porta do quarto. O seu sangue havia-lhe aflorado à pele e um tom rosado tomara então conta das suas faces.
- Sim? – perguntou ela, enquanto tentava regularizar a respiração.
- Preciso que vás buscar outra caixa de medicamentos dos que estão pousados na mesinha da entrada e que me tragas também mais umas quantas seringas esterilizadas – disse a médica, tentando coordenar habilmente a consulta com o recado que estava a dar.
A jovem ninja anuiu. Pegou nas caixas que lhe haviam sido indicadas e dirigiu-se ao armazém, que ficava no outro lado do hospital.
Devido à sua falta de experiência prática, tinham-na colocado a fazer tarefas mais simples.
- “Tarefas de estagiário…” – pensava ela, contornando as macas extra e as enfermeiras com que se cruzava nos corredores. Compreendia o facto de a meterem a fazer aquilo, mas, se não lhe dessem tarefas mais complexas, nunca iria evoluir.
Abriu a porta metálica do armazém e deparou-se com uma grande sala, repleta de armários engavetados. Estava tudo ordenado pelo alfabeto, por isso seria fácil encontrar tudo o que precisava. Retirou um saco plastificado de uma gaveta junto da porta e foi então procurar tudo o que lhe haviam pedido.
Pouco depois, Kristea saiu do armazém. Trancou a porta metálica, embora soubesse que não iria ficar assim por muito tempo. Enquanto caminhava, resolveu verificar se tinha tudo o que estava na lista.
Uma pétala rosa entrou pela janela aberta naquele corredor e atravessou-se no caminho da rapariga, fazendo-a parar, estupefacta. Pétalas? Parecia uma pétala de flor de cerejeira, mas tal não seria possível…
Aproximou-se da janela, de certa forma curiosa para descobrir de onde vinha a pétala. Não poderia ser de uma árvore. O mais provável era que fosse de um vaso de uma das casas vizinhas…
O medo apoderou-se do seu corpo quando a viu no outro lado da rua. O tronco negro, alto e esguio, com múltiplos ramos. Estes últimos tinham alguns rebentos e, estranhamente, várias flores, embora fora de época. Ainda faltava um bocado para a Primavera… Como seria tal possível? Tinha sido apenas um sonho…
Um arrepio percorreu a sua espinha e afastou-se da janela. Alguma coisa não estava bem… Tinha que se acalmar. Não faltava muito para acabar o seu horário de expediente e ir embora. Assim poderia falar com Ryu. Sim, ele saberia o que fazer.
Kristea voltou para o trabalho. Embora quisesse manter-se concentrada, a presença daquela árvore havia-a perturbado. Estava com um mau pressentimento.
Entregou os medicamentos e as seringas e passou pela sala do staff para verificar as horas. Ainda faltava uma hora para sair… Suspirou, voltando-se lentamente, resignada.
- Hoje pareces-me cansada. E realmente trabalhaste bem – disse Sakura, que se encostara à porta quando a viu ali. – E que tal ires para casa mais cedo? Como recompensa – sugeriu ela, sorrindo.
A expressão de Kristea animou-se aos poucos e esboçou um largo sorriso embaraçado.
- Obrigada! – agradeceu, indo buscar as suas coisas ao cacifo que lhe fora destinado. De seguida, despediu-se da sensei e saiu do hospital.
O sol ainda não se havia posto, mas já pintava o céu com os seus tons quentes. O dia continuava esplendoroso, tal como havia nascido e nada parecia arruiná-lo. Nada excepto o mau pressentimento de Kristea, que teimava em ocupar-lhe a mente, provavelmente sem razão alguma. Talvez fosse melhor verificar a árvore, Assim veria que não tinha razão para estar assim.
A árvore era, de facto, inofensiva. Era simplesmente uma árvore. Que mal poderia fazer?
Kristea tocou no seu tronco, mas uma espécie de choque fê-la retirar imediatamente a mão. Rapidamente se apercebeu de uma presença que não lhe era de todo desconhecida.
- Há quanto tempo não nos víamos… - disse Leo, chamando a atenção de Kristea para o cimo da cerejeira onde se encontrava.
Por protecção, Kristea afastou-se alguns metros. Não conseguia ler a expressão dele.
- Estás cada vez mais linda… Os teus olhos verdes são encantadores… Mas vou deixar-me de rodeios e vou directo ao assunto que me trouxe aqui – declarou ele, saltando para o chão.
A ninja lembrou-se das palavras do irmão e dos avisos que este lhe fizera acerca de Leo. Não tinha a mínima hipótese contra ele, principalmente desarmada. Descobrira o porquê do seu mau pressentimento.
- Eu vim aqui porque tive que tomar uma importante decisão. Eu… - disse ele, hesitando. Corou ligeiramente e passou a mão pelo seu cabelo negro, algo nervoso. - Eu… Eu amo-te!
Kristea ficou quase da cor do seu cabelo. Ele admitira? Ele tivera coragem para se confessar? Qual seria a sua intenção?
- No entanto, fui obrigado a escolher… Ou ficava contigo ou contra ti… - continuou ele, acercando-se dela lentamente. Acelerou de repente e surgiu mesmo ao lado de Kristea, sem que ela o visse. – E eu escolhi…