- Citação :
- "Há sempre coisas que não devem ser reveladas, devem permanecer em segredo e apenas reconhecidas por aqueles que lhe dão valor. Verdades que se podem tornar perigosas, mas na mentira reside o medo da descoberta, o receio de algo que sempre recusamos em partilhar se torne no segredo de todos. Nasce um paradoxo que corrói a mente e nos impede de dormir, será que devo dizer a verdade e enfrentar os perigos que possam resultar dela? Ou viver no segredo e arriscar-me a ser apanhado de surpresa?"
Entrei em Kumo acompanhado pelo meu pai, pelos vistos o Raikage queria falar connosco, ou o meu pai que queria falar com ele. O meu pai carregava consigo um mistério que me começava a intrigar em demasia.
- Vá diz lá o que vamos fazer à do Raikage. – Insistia eu.
- Só mais um pouco. – Resistiu ele à tentação de contar. Entramos num pequeno e acolhedor bar, repleto de aromas variados, mas o mais intenso era sem duvida o que vinha da ponta do cachimbo que o dono tinha ao canto da boca e libertava uma enorme nuvem de fumo. Fazia-se ouvir um pequeno rádio portátil, que tocava uma música quase imperceptível.
- Tanto mistério para me trazeres a um bar que mais parece um nevoeiro? – Ironizei eu, tentando afastar o fumo da minha frente.
- Aqui podemos falar em segurança. – Disse o meu pai sentando-se, imitei-o.
- Então vá, porque tanto mistério?
- Como tu sabes, és herdeiro de uma das linhagens mais raras da actualidade, sabes que todo o teu clã foi assassinado sem deixar rastos.
- Até ai acompanho-te.
- Bem, à poucos membros, se é que existe mais de 1 ou 2, conhecidos. Desde que eras criança que te incentivamos a esconder esse teu poder de modo a evitares situações de perigo. Neste mundo em que vivemos há pessoas que fazem tudo por poder, mesmo que para tal seja preciso destruir tudo aquilo que surja no seu caminho. Para não atrairmos caçadores de recompensas, entre outros, escondemos a tua linhagem até do próprio Raikage, só eu e a tua mãe sabemos que possuis a Shikotsumyaku nas tuas veias, ou ossos se preferires. Sempre fomos bem sucedidos e até hoje ninguém sabe da tua existência. É então que chegamos a este momentos, já tens 18 anos, és maior de idade e tornaste-te num ninja capaz e com margem para evoluir imensa, e cabe-te agora a ti escolheres. Preferes viver escondido ou revelar ao mundo da tua existência?
Já esperava este momento à algum tempo, sempre me perguntara porque insistiam os meus pais em manter-me em segredo e a ter de esconder o meu poder dos demais, quer na academia, quer na vila em geral sempre tive de ocultar o meu passado, o meu legado, e agora estava nas minhas mãos a decisão de permanecer nas sombras ou de me mostrar a todos. Reflecti por momentos, estudando os prós e os contras, apesar de já ter a minha decisão tomada.
- Eles que venham, antes de chegarem aos meus ossos… já eles chegaram aos deles! – Respondi em tom de desafio. Não podia viver mais escondido, o meu poder é para ser usado e demonstrado, não para ser contido e escondido, sem ele eu não era nada. – Não tenho medo que venham atrás da minha cabeça por dinheiro ou atrás dos meus ossos por poder, não quero mais esconder quem eu sou, quero demonstrar ao mundo aquilo que sou capaz.
- Eu nem sei porque perguntei, já sabia que essa era a tua decisão. Então vamos, antes de revelar-mos a quem quer que seja, o Raikage tem de ser o primeiro a saber.
Dirigimo-nos até ao gabinete do Raikage que nos recebeu de imediato.
- Bons olhos de vejam Liun, vejo que trouxeste o teu rebento. – Disse o Raikage acenando para mim.
- Não me trate por rebento Raikage-Sama… - Respondi ao Raikage.
- Esta juventude e os seus complexos. Prosseguindo o que nos traz a vossa presença?
- Temos um assunto de grande importância a discutir consigo Raikage-Sama.
- Força, sabem que podem sempre contar com o meu apoio.
- Obrigado Raikage-Sama. Como sabe aqui o meu filho foi fruto da minha união com a Ichizura.
- Sim eu sei. – Disse o Raikage atento ás palavras do meu pai.
- A Ichizura como também sabe foi uma sobrevivente do golpe de estado do clã Kaguya.
- Sim tu contaste-me quando chegaste a Kumo com ela em como a tinhas salvo quando a encontraste ferida inocentemente. – Respondeu o Raikage.
- Pois a verdade é que ela não é assim tão inocente…
- Como assim? – Raikage franziu a testa e adoptou uma postura mais desconfortável.
- Vou directo ao assunto, Ichizura é na verdade uma das sobreviventes do clã Kaguya. – O choque foi imediato, a expressão do Raikage alterou-se mostrando grande espanto. – Eu sabia que se disse-se que ela era Kaguya provavelmente acabariam por a deixar morrer e recusarem-se a ajuda-la, mas fui incapaz de deixar uma mãe morrer com o filho ao colo. Foi por isso que criei esta mentira que até hoje perdurava. – O Raikage levantou-se e olhou pela janela.
- Isso é grave, tens conhecimento disso não tens? Mentiste e trouxeste uma potencial assassina para a nossa vila.
- Ela não é nenhuma assassina! – Contra-argumentou o meu pai de imediato num tom ríspido. – Ela queria fugir, queria abandonar a guerra e fugir com o seu filho, foram os seus que a atacaram.
- Como podias saber disso? Ela estava amnésica, ela podia muito bem ser uma armadilha! – Respondeu o Raikage batendo com a palma da mão na mesa.
- Eu compreendo os riscos que corri, mas não me arrependo de nada, não é da minha natureza, nem do povo de Kumo deixar alguém para morrer! – O meu pai respirou fundo, e o Raikage sentou-se novamente na sua cadeira.
- O mal já foi feito, e felizmente nada de mal aconteceu, foi um erro que comentes-te, deverias ter-me contado, deverias saber que também eu não deixaria essa mulher morrer, apesar de ser hipócrita ao ponto de saber que não é correcto para a vila. Mas calculo que trouxeste o teu filho para me contar algo mais… espera… é o que eu estou a pensar? – O Raikage apercebeu-se que a minha presença não era em vão.
- Sim Raikage-Sama, o Kosshi é herdeiro do Shikotsumyaku. – Novamente o Raikage só não abriu a boca de espanto para manter a postura.
- Quer dizer que ele… isto sim é algo escandaloso. Isto pode significar um grande perigo para Kumogakure, um Kaguya tão jovem, se ele fosse mais poderosos eram poucos aqueles que ousariam enfrenta-lo mas assim torna-se um alvo apetecível, por mais quanto tempo pretendias ocultar-me isto?
- Até o Kosshi ter idade suficiente para decidir por si.
- Sabes do perigo que ele passou, ele podia muito bem ter sido capturado. – O Raikage parecia alarmado com esta nova informação, mas não podia ficar calado enquanto via o Raikage por em causa o esforço do meu pai.
- Raikage-Sama se me permite interrompe-lo, os meus pais fizeram todos os esforços para que ninguém soubesse da existência da minha linhagem, ninguém até hoje soube, eles sempre fizeram o mais correcto, e não tolero que ponha em causa a maneira como os meus pais me criaram ou educaram. Até hoje sempre sobe me conter, sempre escondi o meu poder a pedido dos meus pais, e muitas foram as vezes que me apeteceu dar a conhecer o gosto de uma luta ao meus ossos mas sempre resisti, mas não mais, aviso-o já que a minha decisão está tomada, não irei mais fugir ou esconder, a partir de hoje este segredo acaba, e a próxima vez que a oportunidade surgir, eles irão aparecer… - O meu tom era confiante, e senti que também o Raikage percebera a minha determinação.
- Não posso deixar de achar a tua decisão irresponsável, sabes os perigos que vais correr, assim que os teus ossos forem vistos pela primeira vez, rumores vão correr todas as nações ninja, e todos saberão que um novo herdeiro Kaguya vive, espero que saibas a responsabilidade que isso acarreta. Não posso te obrigar a esconderes quem tu és, és livre de fazeres o que achares melhor e quero que saibas que, mesmo achando um enorme risco, terás o apoio de toda a vila.
- Agradeço Raikage-Sama, prometo que não irei trazer perigo à vila.
- Eu sei que não… agora vai, livre pela primeira vez, sem teres a obrigação de viver assombrado pelo segredo.
- Obrigado Raikage-Sama…