Amanhecia lentamente. Os traços alaranjados de um Sol acabado de acordar espalhavam-se ao longo do céu cobrindo a fraca Lua que desaparecia no horizonte a um ritmo igualmente lento. No Acampamento Imagawa poucas pessoas acordavam com este Sol. Acordavam essencialmente os sentinelas para que possam trocar de turnos com aqueles que ficaram acordados a noite toda e que agora iriam para casa para um merecido descanso.
-Qu-que enxaqueca d`um raio! – Grunhiu Katsu abrindo os olhos e levando a mão direita a uma testa dolorosa e protestante.
O rapaz bocejou e pestanejou. A sua visão encontrava-se ligeiramente túrbida mas fora o suficiente para ver que a sua mão estava metida dentro de um jarro laranja, que um dos seus pés estava colado ao chão e que na sua cabeça estava um chapéu-de-palha característico dos agricultores daquela região.
-Mas que… - O rapaz tirou a mão do jarro, saindo com ela alguns bicharocos nojentos que foram enxotados por um movimento de pulso, e tentou forçar o seu pé a descolar do chão – Mas o que é que estivemos a fazer ontem à noite?
-Cala-te… baka… - Murmurou Kimera que dormia a uns centímetros de distância totalmente enrodilhada em folhas de palmeira e com incontáveis beatas à sua volta – O galo ainda nem cantou… dorme idiota!
-Tenho uma missão para cumprir boneca… - Justificou-se o Imagawa agarrando na sua perna com firmeza e conseguindo descolar o pé do chão por fim – Foi-me pedido para chegar lá cedo, então vou partir o quanto antes.
A rapariga praguejou algumas palavras inaudíveis e levantou-se frustradamente. Cambaleou um pouco mas conseguiu segurar-se a uma árvore perto de si e colocar a mão na sua testa. Murmurou mais algumas palavras inaudíveis e então olhou à sua volta. Ambos tinham adormecido na Praça e o cenário atual era horrível. Inúmeras pessoas a dormirem sobre o chão de granito, muitas delas em poses estranhas ou fantasiadas com coisas estranhas, com garrafas e garrafas de sake e outro tipo de álcool à volta delas. Graças a tanta diversão, Kimera e Katsu pagavam agora com uma irritante enxaqueca que parecia nunca mais ter fim.
-E… porque é que precisas de… acordar os outros, estúpido? – Resmungava a Fukeru rancorosamente nunca retirando a sua mão da cabeça dolorosa e exibindo os seus característicos traços de mau-humor matinal.
-Queria-me despedir de ti – O mercenário retirou o chapéu de cima de si pousando-o em cima da cabeça de um homem que dormia a seus pés e apressou-se a limpar as suas vestes com fortes sacudidelas com as mãos – Pode ser que eu não volte boneca…
Dito isto, o rapaz avançou destemidamente para o portão evitando as pessoas que dormiam no chão da Praça com saltos felinos e precisos. Em questão de minutos Katsu encontrava-se fora do perímetro da Praça e preparava-se para dirigir-se até ao portão do Acampamento para rapidamente seguir viagem.
-Katsu… espera! – Pediu Kimera afastando os corpos dorminhocos à sua volta com indomáveis pontapés e insultos impiedosos.
O rapaz estacou e deu meia-volta. Observava a rapariga loira a correr em sua direção, afastando um último corpo com um pontapé na cara deste.
-Boa sorte fofito… - Despediu-se Kimera abraçando o seu companheiro fortemente pela cintura deixando um Katsu de olhos arregalados e braços hirtos, mas que não tardou a retribuir o afeto – Não te esqueças de me trazer uma lembrança, pode ser álcool ou algum conteúdo pornográfico…
O rapaz envolvia a cintura da sua colega com carinho apertando-lhe o corpo contra o dele. Este momento de carinho estava a ser fantástico para ele. Tê-la nos seus braços estava a ser simplesmente divinal, “divinal” nem seria a palavra correta para descrevê-lo. Não, precisava de encontrar uma palavra com um sentido superior a esse. Obviamente que a Fukeru não opinava o mesmo.
-Vais largar-me baka? – Resmungou a rapariga apertando os prodígios de Katsu com a mão consoante a outra empurrava o corpo dele para longe de si – Uma pessoa não pode abraçar-te por uns segundos que já queres fazer sexo com ela! Mete-te no caralho e volta rápido! – Despediu-se, na sua forma matinal, virando-lhe costas e dirigindo-se de novo para a pilha de corpos – TOCA A LEVANTAR MONTES DE MERDA!
O Imagawa contorceu-se violentamente, ajoelhando-se no chão e socorrendo os seus testículos com ambas as mãos. Latejavam violentamente acompanhando a dor da enxaqueca que ainda não havia passado. Suspirava por aquele momento ter sido tão curto, desejava mais… Desejava a Kimera, menos aquele mau-humor…
Enquanto a sua colega acordava os Imagawa aos pontapés, Katsu levantava-se a um ligeiro custo e dirigia-se para o portão. Lá foi abordado por um guarda que desejou sorte na nova missão do Imagawa e que a Mãe Natureza o acompanhasse.
Quatro horas depois…
A viagem fora incrivelmente demorada. Seguia as coordenadas exatas do mapa que o seu líder passara-lhe, mas mesmo assim nunca esperaria que o templo estivesse tão longe do Acampamento.
-Finalmente… - Suspirou o Imagawa ao ver um edifício enorme a erguer-se por detrás de algumas copas das árvores.
Mais alguns passos entre essas árvores fora o suficiente para ver o que o esperava. Um edifício gigante esculpido a mármore composto por um cubo no centro com quatro torres a erguerem-se nos quatro cantos desse cubo, onde a torre a Noroeste encontrava-se bastante desgasta. Em cada torre, mesmo na desgasta, notava-se que continham uma pequena janela, mas nada de entrada, e que estas encontravam-se ligeiramente afastadas do cubo dando dúvidas a quem as visse do seu real propósito. O cubo era o inverso das torres, este não continha janelas mas um grande portão azul que dava entrada ao suposto templo.
O mercenário andava em frente comtemplando a altura do templo. Aproximava-se a passo lento da entrada onde o aguardava uma rapariga, tal rapariga que já resmunga algumas palavras de insatisfação pela sua companhia ter demorado tanto.
-Estás atrasado! Devias de ter chegado muito mais cedo, não sabes que é feio fazer uma mulher esperar? – Vociferava a adolescente com vontade de pegar na sua espada e fatiar Katsu às postas.
O Imagawa cessava o seu passo e olhava para a adolescente à sua frente. Esta possuía média estatura e com o corpo ligeiramente musculado. A primeira coisa que distinguia-se eram os cabelos grisalhos que combinam levemente com os olhos castanhos-claros, tais olhos que são contornados por uma risca azul e que depois ganham terreno à medida que desce para a extremidade inferior da face. A rapariga usava uma camisola de manga curta cinzenta, que era coberta superiormente por um manto azulado que descia até às ancas. As pernas eram cobertas por calções negros e justos que desciam até metade do fémur. Dos joelhos aos pés esta colocava uma meia elástica até às pontas dos dedos que depois eram escondidos por duas sandálias cinzentas. As unhas estavam pintadas de azuis e distinguia-se uma lâmina de cobre presa às suas costas.
-Desculpa mas tive alguns problemas de bexiga. És a Kumokira, suponho? – Interrogou o rapaz não achando a Kumokira tão bonita como a Kimera. E a Fukeru que não saía-lhe da cabeça!
-Shugo Kumokira, a tua nova parceira… - Apresentou-se a rapariga de cabelos brancos com um olhar neutro mas um sorriso minimamente inspirador – E tu és o “Nightmare”, Katsu Imagawa um famoso…
-Por favor não continues! – Interrompeu o rapaz colocando uma mão à frente dela para dar-lhe sinal que queria que esta parasse – Eu já não sou esse “Nighmare” de que estás a falar, deixei-me dessa vida há muito tempo!
-Não me interessa, desde que as tuas famosas habilidades ainda estejam intactas. Vamos precisar delas! – Avisou Shugo virando-lhe o corpo de lado e apontando com o indicador para o portão azul daquele edifício – Como sabes blá-blá-blá e temos que entrar nesta coisa e blá-blá-blá ritual Kumogawa, entendido?
-Vamos lá despachar isto Shugo… - Anunciou o rapaz atribuindo-lhe um sorriso amigável que era ocultado pela máscara.
-Indiferente e frio, tal como és conhecido… - Suspirou a Kumokira que não se apercebera do oculto sorriso do seu novo companheiro – E podes tratar-me por “-sama”… - Pediu aproximando-se do portão e batendo com uma cotovelada num determinado ponto da entrada, tal ponto que saltou para fora deixando um buraco nesse portão onde a rapariga enfiou a mão e pressionou em algum sitio que fez o portão começar a mexer-se lentamente começando a revelar um corredor sombrio e frio constituinte do templo.
Katsu permaneceu calado avançando em frente para o corredor sombrio, sendo seguido por Shugo que fechou o portão quando ambos encontravam-se dentro da estrutura. Via-se uma ligeira luz ao fundo do corredor e conseguia distinguir-se alguns ruídos animalescos a provirem da luz ecoando nas paredes do túnel que faltava atravessar para chegar a essa luz. A Kumokira encontrara um pequeno pau com semelhança de uma tocha onde o Imagawa a acendia com um ligeiro movimento Katon. A rapariga de cabelos grisalhos sorriu de leve e elevou a iluminação para ter uma breve vista pelo corredor.
-Nós os Kumokira temos explorado este templo incontáveis vezes antes da Segunda Batalha… - Começou a explicar a rapariga enquanto iluminava o caminho do corredor deixando claro a ambos que este não passava mesmo de um túnel vulgar e frio – E numa dessas explorações descobrimos uma sala em particular bastante interessante. Uma sala onde duas pessoas de sangue diferente podiam fazer um pacto de Kuchyose para que assim conseguissem invocar uma à outra – Foi aí que a atenção de Katsu concentrou-se atentamente na explicação da sua nova companheira – Obviamente que isso seria útil numa batalha pois graças a este pacto ambos os companheiros também conseguiam partilhar entre si chakra e outras coisas menos importantes.
Finalmente o final do corredor chegara e dava finalmente para distinguir-se o interior subterrâneo do templo. Katsu arregalava os olhos perante o deslumbrante cenário consoante Shugo limitava-se a apagar a chama da tocha e a atirar o velho pau para um canto qualquer. Imagawa e Kumokira avançaram a passo lento pelas ruínas do templo olhando para todo o seu redor. Mesmo em ruínas dava para calcular o esplendor que este templo fora anos mais tarde. Interiormente o templo presenteava uma sauna totalmente diferente do mundo ao seu exterior, mas que assemelhava-se bastante com o aspeto exótico do Acampamento Imagawa. Aquele recinto em especial continha das mais variadas árvores e plantas exóticas e de múltipla cores onde encontravam-se em plena sintonia com alguns animais de pequeno porte que passeavam por entre tanta vegetação. A única coisa humana nesse cenário era exatamente o templo em si, as paredes, colunas e teto que suportavam a vetação, tal como as poucas janelas situadas nas paredes que conseguiam transmitir claridade para dentro do recinto.
-Espera lá… Fora do templo eu só vi janelas nas torres, como é que aqui há janelas? – Questionou-se o rapaz seguindo a Kumokira por umas escadas feitas de raízes de árvores.
-Aquele cubo lá fora não era o templo mas sim a entrada dele. Quando entramos pelo portão azul e seguimos aquele corredor frio nós viajamos alguns quilómetros no subsolo até chegarmos ao verdadeiro templo subterrado… Aquelas janelas são das poucas coisas neste templo que não ficaram enterradas e é graças a elas que toda esta porcaria verde ainda está viva… - Explicou Shugo revelando-se com bastantes conhecimentos sobre o templo.
A rapariga retirava a sua espada de bronze para abrir caminho por entre tanta folhagem com golpes precisos e rápidos no meio de tanta planta. O Imagawa nunca parava de a seguir mas o seu olhar também não conseguia desviar-se de tanta beleza natural. Aquele local era fantástico e não lhe espantava que os Imagawa o admirassem tanto. O templo continha espécimes raros de plantas e animais que conseguiam viver em perfeita sintonia. Apesar de tudo, o rapaz questionava-se ao mesmo tempo da verdadeira importância de criar um laço como o que a Shugo havia explicado.
-Shugo, tenho uma pergun…
-Agora não Nighmare! – Interrompeu a rapariga agachando-se ligeiramente numa posição de batalha onde a ponta da sua espada apontava para um corpo musculado e gigante à sua frente.
Os olhos de Katsu arregalaram-se ainda mais quando vira o novo obstáculo da dupla. Um gigante corpulento metade homem e metade touro barrava-lhes o caminho com um machado ainda maior que os dois humanos. Era uma criatura mitológica que muitos acreditavam inexistente… Minotauro…