As Placas das Almas I

Os ninjas de Sunagakure cumpriam os seus deveres debaixo de pesadas vagas de calor e camadas de suor insuportáveis. Nem esvaziando as garrafas de água do armazém seriam capazes de refrescar-se, quanto mais saciar-se, por isso mantinham-se fortes e tentavam poupar a água, a pouca sendo mais preciso, para que esta durasse o máximo possível. Esgotavam o máximo que lhes era possível as reservas dos cactos das redondezas, mas tanto como os céus, as plantas preferiam manter o máximo para si e partilhar pouco.
Mais de uma semana naquele inferno de deserto. Olhos cansados, olheiras que só tendiam a expandir-se, lábios e pele seca, roupas poeirentas e gastas; mesmo habituados  nem os ninjas da região conseguiam aguentar o clima em torno do Templo Oculto, que se afigurava muito pior do que na vila. Alguns chegavam a andar nus, outros treinavam para tentar evitar o maligno calor e, no cúmulo do desespero, grande parte começava a guardar a sua urina, para, como último recurso, ser o derradeiro refresco... Mas preferiam não pensar nisso enquanto os barris de água dessem gotas para as canecas insaciantes...
- Estou tão farto deste trabalho... – Reclamou um dos ninjas em meio de um suspiro, não falando para ninguém em particular mas ao mesmo tempo para todos – Estou farto desta porra de calor. Farto do cheiro da vossa merda! Farto de só poder beber gotas! Já nem fome tenho, caraças!
Os resmungos entoaram ao longo da entrada ampla do templo. Alguns homens concordaram em curtos acenos ou acrescentando insultos, mas os mais silenciosos ou fortes preferiam conter-se e cumprir a tarefa.
- Temos de ser pacientes! – Tentou acalmar um dos homens que, apesar de estar tão farto da situação como os seus companheiros, sabia que ainda podiam aguentar mais uns dias até o Kazekage encarregar outro esquadrão com a tarefa – Só mais uns dias e voltamos para a vila e livramo-nos deste sítio maldito!
A voz, contudo, não lhe saíra tão confiante quanto contava, mas os resmungos dos homens foram sendo substituídos por conversa normal ou desejos virados aos céus. O descontentamento ainda estava presente, mas pelo menos fora temporariamente controlado. Só teria de ser controlado até o Kazekage dar mesmo ordem de voltar...
- Eu só queria um pouco de chuva! – Gritou um ninja, abraçado fortemente a uma palmeira. Todos os outros que faziam o perímetro à volta do templo olharam para o maluco – Deus! Chuva, meu Deus! Que chova, meu Deus! Meu Deus!
Algumas risadas foram surgindo e uma frágil boa-disposição foi instalada à custa do desespero de um único. Era uma situação aceitável e até favorável: deixar o maluco ser maluco para levantar o que conseguisse a moral dos homens. Mas... Seria ele tão maluco assim?
Uma gota de água cai dos céus...

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Por fim, ao horizonte, por detrás de tantas dunas de areia, de ventos e de cactos, um edifício vai-se erguendo aos poucos, acompanhando as tonalidades alaranjas do pôr-do-sol.
- Aleluia! – Rosnou uma voz seca por debaixo da capa negra com padrões de nuvens vermelhas – Estou... Tão... Socorro! – O homem ajoelhou-se, tossindo secamente e respirando muito pesadamente, assemelhando-se a uma falta de ar – Arami... Água!
O companheiro do homem em agonia limitou-se a olhar para o templo ao longe, colocando uma mão na cintura seriamente.
- Finalmente encontramos o Templo Oculto! – Celebrou com pouca convicção sem conseguir deixar de ouvir a tosse seca e pedidos de auxílio do outro – Hey Katsu, levanta-te, homem! – A respiração de Katsu tornara-se agora mais seca, ainda acompanhada por tosse, e o Akatsuki não conseguia deixar de tentar molhar a garganta com saliva, mesmo não a tendo – Malditos Kirinin`s, não aguentam um pouquinho de Sol que secam logo que nem peixinhos! – Remexeu nos seus bolsos e encontrou por fim o seu cantil, que ainda continha uma quantidade de água impressionante considerando a longa caminhada que haviam feito no deserto – Aposto que já esvaziaste o teu cantil, não é? – O Imagawa esforçou-se como conseguiu para exasperar um “Sim”, levando Arami a suspirar e insultar o seu companheiro mentalmente – Toma, bebe daqui! – Ordenou, atirando com o cantil para a frente dele.
Enquanto que o seu companheiro se contorcia em volta do cantil para tentar beber da água, Arami sentara-se por cima do manto quente de areia como se para ele nada fosse. O seu olhar ainda focado no templo, o objetivo da longa caminhada... O templo não representava nada de especial, era uma única estrutura gigante em forma piramidal com fileiras de coluna a formarem um quadrado ao seu redor e algumas palmeiras e cactos a fazerem de seu jardim. O templo parecia todo ele velho e gasto, coberto de areia pelas imensas tempestades que teve de aguentar  e pela inesgotável curiosidade humana de tocá-lo e explorá-lo, mas as mesmas marcas do tempo e desgasto davam-lhe um ar de vigor e força, tornando-o em algo único e tão resistente e forte quanto o próprio deserto.
- Aquele templo é assim tão importante? – Perguntou-se o criminoso para o vento que passava pela sua cara, trazendo consigo pequenos grãos de areia que não o conseguiram incomodar.
Ouviu-se um som de alívio e um cantil surgiu aos pés de Arami.
- Já viste todos aqueles ninjas? E nós nem conseguimos ver os de dentro. – Katsu já parecia mais calmo do seu ataque de desidratação, sentando-se agora à beira do companheiro de viagem e olhando também para o objetivo.
Arami agarrou no cantil e abanou-o fortemente, percebendo que este se esvaziara, olhando furiosamente para o Imagawa.
- Não era para beber tudo, peixe maldito! – Vociferou, levantando-se de rompante e atirando com ainda mais fúria o cantil para o meio da areia, quase o conseguindo enterrar com os fósseis daquela região – Meu grande idiota, e se eu agora tiver sede?!
- Eu dou-te água! – Gargalhou, deixando uma pequena cascata de água escorrer pela sua boca para mostrar como conseguia voltar a enchê-lo.
Arami ajoelhou-se, abaixando a cabeça e agarrando o cabelo espigado fortemente. Pequena lágrimas molharam o solo...
- Se consegues fazer isso porque foste beber da minha água...
- Arami... Chorar no meio do deserto só te vai deixar com mais sede! – Voltou a gargalhar o bem-disposto Nukkenin, agarrando o cantil vazio e metendo a boca no gargalo. Encheu os pulmões e ouviu-se o som de um líquido a jorrar até o cantil ficar cheio. Depois estendeu-o para o colega – Toma, está cheio de novo!
Apesar de repugnado por aquela água vir do corpo de Katsu, Arami viu-se a aceitá-la por não ter mais nada com que saciar-se. Deu uma rápida golada de teste e comprovou que sabia a água normal, apesar de ter aquele sabor a estupidez de Imagawa, guardando o objeto consigo para que não fosse mais causa de distração.
- Katsu, vamos despachar-nos a encontrar as placas e voltar para a base! – Ordenou Arami, erguendo-se mais uma vez e limpando a areia que se havia aglomerado nas suas roupas – Que comece o plano!
O Imagawa sorriu de leve e fez um único selo com as mãos:
- Ukojizai no Jutsu!