As Placas das Almas II

- O... O que é isto? – Ecoou uma voz sonolenta pela sala escura e silenciosa, sem receber resposta. Fora das paredes, o som de água a bater contra a superfície do templo era ensurdecedor – Está... Está a chover... Em Suna?
Um poderoso impacto fez o templo estremecer e pequenos grãos de areia deterioravam-se dos seus companheiros para embaterem contra a careca do solitário homem. O vento, melhor amigo da torrencial chuva, esgueirava-se pelas irregularidades das paredes, trazendo o frio e a sensação de frescura, sentimentos há muito esquecidos por aquele homem. E a chuva continuava forte...
O pequeno momento em que o homem aproveitava o esquecido frio e sentia o seu calor ser apagado pelas constantes brisas de vento foi interrompido por passo a vibrarem do corredor ao lado.
- Kihara-sama! – Uma voz vibrou para perto do meditante homem, no entanto este não lhe reagiu – Está a chover em torno do templo, senhor!
- Só em redor do templo?
Enquanto o homem esperava pela confirmação, ergueu-se lentamente. A voz preocupada do mensageiro, a chuva e o vento incessantes; algo não estava bem...
- Enviamos mensagens ao quartel mais próximo, que por sua vez comunicou com Kazekage-sama. Recebemos confirmações que só chove cá e, portanto, deduzimos que poderá ser uma técnica ninja! – Relatou o jovem, com o peito cheio de orgulho por estar a fazer o primeiro relatório importante da sua vida. A sua inexperiência só tornava este tipo de encargos mais emocionantes, não parando sequer para pensar na gravidade das palavras que transmitia – Quais as suas ordens?!
Um momento de silêncio impôs-se, no qual se ouviu Kihara a murmurar para si. Se só chovia em torno do templo era muito improvável ser um raro fenómeno natural, pelo qual a dedução sobre ser uma técnica ninja era mais que correta. O templo mantivera-se por tanto tempo oculto, escondido por entre as grandes dunas e pelas miragens provenientes dos Genjutsus dos esquadrões encarregues disso, como poderia alguém tê-los encontrado?
- Senhor... – O jovem sentiu-se na obrigação de interromper o irritante murmúrio, demasiado excitado com a situação para ficar ali parado à espera que decisões fossem tomadas – Acho que vêm atrás das Placas, não devíamos protegê-las o quanto antes?
- Os velhos sábios é que deviam aconselhar os jovens inexperientes, não concordas? – Resmungou Kihara, numa voz calma e indiferente, mas suficientemente forte para apaziguar os ânimos do ninja.
Se o inimigo conseguiu passar pelas barreiras de Genjutsus então não deviam ser ninjas ordinários. Pensar que seriam ninjas de outra vila era desonroso, visto que o tratado da paz era respeitado, mesmo na forma mais amargurenta, e que traição agora não seria bem vista quando a Akatsuki dava sinais de surgimento.
- Mas... – A linha de raciocínio do velho chegou por fim a uma conclusão – Não pode ser... Akatsuki?! – O olhar dele agravou-se – Vai chamar Sorata-san e convoca a mercenária de Kumogakure!

---

- Ei! – Gritou um dos guardas, ao avistar do seu posto uma figura encapuçada a caminhar calmamente na sua direção, indiferente a chuva no meio do deserto – Foste tu quem fizeste esta chuva?!
A figura, como finalmente reparasse naquele homem, aproximou-se de quem a havia chamado e estacou quando o guarda lhe estendeu a palma da mão para o parar.
- Esta área é restrita a pessoas não autorizadas! – Avisou com uma voz severa – Foste tu quem fez esta chuva, ou não?
Ouviu-se um grande estrondo e uma volumosa nuvem de poeira ergueu-se do solo para ser perfurada pelas constantes pingas de chuva. O solo e o templo estremeceram violentamente por breves segundos e tanto o guarda quanto a figura encapuçada se desequilibraram.
- Mas o que se está a passar?! – Gritou o guarda para trás de si, perdendo subitamente o interesse no estrangeiro com quem estava a falar – Onde estão todos?
O imenso calor, a torrencial chuva e as densas ventanias de areia molhada dificultavam em muito a visão, mas ainda assim o guarda ouvia sucessivas explosões e vultos enormes (de tamanhos não-humanos) erguerem-se no perímetro a Sul do templo.
A imagem catastrófica do interior do templo conseguira deixar o guarda atónito e incapaz de saber o que fazer a seguir. Katsu não esperara uma reação tão exagerada de um ninja de uma vila, deviam estar acostumados a este tipo de situações, pelo qual decidiu dar-lhe descanso com um rápido corte na diagonal com um feixe de água. Sangue espirrou para cima da areia molhada e o corpo tombou na exata área que devia guardar, vigiando-a agora eternamente.
De acordo com o plano, o Imagawa criaria a distração inicial com o Ukojisai no Jutsu. Ao criar chuva numa área desértica, a distração teria um maior impacto e alarmaria o inimigo para que estes se preparassem para um ataque, ao mesmo tempo que, graças aos efeitos do Jutsu, os criminosos pudessem saber o número de patrulhas na área exterior do templo. Enquanto que os defensores se preparam, Arami desloca-se para a zona mais a Sul do templo e abusava do seu arsenal Doton para criar a segunda distração e a mais essencial. O objetivo da segunda distração seria a aglomeração máxima do inimigo num único ponto, no intuito de criar o máximo de aberturas para que, posteriormente, Katsu se movimentasse livremente e assim conseguisse infiltrar-se no templo sem atrair atenções...
Assim se recordava o Imagawa enquanto se materializava em água e se esgueirava por uma das irregularidades do templo...

---

- Doton: Kujo Joushou Hashira! – Vociferava Arami, sacudindo a sua Kamitsuchi.
A terra à sua frente estremeceu violentamente, desequilibrando alguns dos defensores e matando outros devido às deformações rochosas que os esmagavam ou engoliam em pequenos abismos sem fundo. Ninjas de Suna tentavam aproximar-se com espadas ou marionetas, mas todas estas tentativas eram subitamente estilhaçadas com o varrer da Kamitsuchi endurecida com Doton, tornando-se capaz de rivalizar até com os materiais mais duros.
- Vamos Sunanin`s malditos! – Clamou o Akatsuki, antes de cortar as esperanças de um Chunnin pela cabeça – Este deserto é tão forte e impiedoso, porque é que vocês não passam de meninas?
A ofensa fora forte o suficiente para enraivecer alguns dos defensores, mas a ideia de lutar contra um Akatsuki ainda era... Assustadora demais. Devido aos sucessivos desastres em Suna, o número de ninjas habilidosos o suficiente para aguentarem com a Akatsuki haviam descido drasticamente e uma grande fatia dos esquadrões a proteger o templo eram constituídos por Chunnin`s que ainda nem haviam feito a sua primeira missão de rank A.
- Não gostas de lutar contra meninas? – Uma voz feminina atrás de Arami fê-lo virar-se bruscamente, a tempo de expelir uma adaga com a sua arma – Então acho que não te vais divertir muito agora...