Placas das Almas VI

- Não gostas de lutar contra meninas? – Uma voz feminina atrás de Arami fê-lo virar-se bruscamente, a tempo de expelir uma adaga com a sua arma – Então acho que não te vais divertir muito agora...
Outra adaga foi arremessada, colidindo contra a Kamitsuchi de Arami, rebatendo para afundar-se entre a areia do local. Mais uma surgiu como um relâmpago, mas também se revelou ineficaz contra a dureza do seu alvo.
- Finalmente, alguém tem as bolas no sítio! – Exclamou Arami como se já tivesse ganho a batalha. Sem a sua visão entretida com tantas adagas, reparou na fisionomia do seu adversário – Uma… Mulher?
A nova oponente de Arami era deveras uma mulher, pelo que ele podia comprovar pelo longo cabelo loiro e peito desenvolvido, a não ser que fosse outra coisa… As suas vestimentas rondavam entre os tons brancos, cinzentos e pretos, dando uma pequena imagem que estava unicamente vestida por panos, imagem adquirida principalmente por causa do lenço agarrado à cabeça.
- Podes chamar-me de Roumi, Akatsuki! – Gritou a jovem loira, invocando de nenhures outra adaga que arremessou violentamente contra a espada de Arami. Este tentou rebatê-la, mas, para seu espanto, cravou-se fortemente à sua arma, o que até então não conhecera. À sua frente, Roumi uniu as mãos em um selo – Thunder Up!
Uma pequena esfera de eletricidade surgiu no projétil, condensando-se e explodindo num enorme impacto de faíscas, luzes e eletricidade que percorrem todo o corpo de Arami. Numa parafernália de dores e choques, o corpo do moreno tombou no solo arenoso, deixando a Kamitsuchi afastar-se de si.
- Sabes, há dois tipos de homens que não gosto – A mulher aproximou-se dele tombado, chutando a sua espada para ainda mais longe. Tirou depois uma adaga do seu bolso, rodopiando-a jocosamente na mão – Dos mulherengos e dos machistas. São tão orgulhosos e pensam que as mulheres são seres inferiores, feitas para ter filhos, para sexo, blá, blá, blá! – Atirou a adaga com que brincava na direção do seu inimigo, não demonstrando qualquer piedade – Mas sabes? Estou habituada a lidar com estes tipos, e eles nunca acabam bem!
A adaga ganhou subitamente uma tonalidade amarela e faíscas saltaram dos seus limites metálicos. Pareceu ganhar velocidade, pelo que não visava apenas trespassar o corpo de Arami, mas acabar com ele em outra daquelas explosões de eletricidade. Todavia, não estava disposto a perder, principalmente para uma mulher. A carne do seu braço transformou-se em pura pedra, estendendo-se a uma velocidade maior que a adaga, sendo capaz de agarrar a Kamitsuchi antes do projétil chegar ao seu destino.
- Doton: Iwa Hogo!
Os seus reflexos foram o suficiente para que a terra à sua volta se modificasse à sua vontade, formando uma resistente cúpula de areia que impediu o ataque de passar. A explosão sucedeu-se como esperado, causando grande furor. No interior da cúpula, Arami conseguia ver algumas faíscas a passarem pela sua defesa, mas demasiado fracas para serem ameaçadoras.
- És um homem tão forte! – Troçou a kunoichi, sem conseguir ver o seu adversário mas preparando mais algumas adagas nas suas mãos – Tens de esconder-te atrás das tuas rochas quando enfrentas uma mulher a sério?
- Estou lixado com esta cabra… - Pensou ainda mantido debaixo da sua defesa, reunindo o seu braço de pedras para reaver a Kamitsuchi – Dá para ver que ela gosta muito de eletricidade e que aquelas adagas são a sua fonte de poder. Mas, caraças! Como é que ela consegue usar Ninjutsus Raiton sem tocar sequer nas adagas?
A sua linha de raciocínio desvaneceu-se aquando uma segunda explosão de eletricidade, capaz de desmoronar a superfície da cúpula de areia que separava Arami e Roumi. A mulher sorriu, malignamente, arremessando de seguida outra sequência de projéteis eletrificadas.
Num movimento ágil com a espada, Arami criou uma súbita parede de terra que bloqueou os arremessos, afastando-se de seguida com um Sunshin para evitar que a área de dano das explosões o pudesse sequer tocar. Pensando que estava a salvo, viu outra arma voar na direção da sua cabeça, mas esta não estava eletrificada. Rebateu-a, no pensamento que era um projétil simples. No entanto, de uma nuvem de fumo, surgiu Roumi do nada.
- És tão lento, Akatsuki!
Em pleno ar, a mulher começou a rodopiar violentamente, arremessando múltiplas adagas (demasiadas para que um ser humano fosse capaz de transportar) em todas as direções. Era impossível escapar aquela técnica de tão perto que Arami estava, pelo que se limitou a endurecer a pele em pedra e aguentar o golpe por completo. Quando Roumi parou de rodopiar, claramente tonta, afastou-se com um Sunshin e uma gargalhada. O corpo de Arami, cravado por completo, desapareceu na imparável sucessão de explosões elétricas.
- E um machista a menos. O nosso mundo ficou um pouquinho melhor! – Sentindo-se vitoriosa, Roumi virou-se para os guardas do templo que viram o desfecho do combate com algumas lágrimas de orgulho e satisfação. Começou a dirigir-se ante o líder da formação de defesa, trocando algumas palavras e preparando-se para discutir sobre a recompensa.
- Doton…
Com a voz de Arami a ecoar ao longo de todo o local, Roumi estacou no seu avanço, olhando para trás. Uma enorme nuvem de poeira erguera-se após todas as explosões, pelo que era impossível saber se o seu inimigo estava vivo ou morto. Contudo, a voz do Nukkenin ecoava fortemente.
- Sando no Jutsu!
A areia em volta de Roumi e da formação de defesa do templo começou a tremer violentamente. Sem prévio aviso, duas enormes paredes emergiram nos flancos dos alvos, avançando uma contra a outra no intuito de esmagar tudo o que as tentasse impedir. Os homens nas formações ficaram nervosos, preparando-se todos para escaparem, alguns conscientes que não iriam ser rápidos o suficiente, mas Roumi deixou-se ficar, conseguindo, por fim, fitar Arami, que surgia à medida que a nuvem de poeira amainava.
- Os Akatsuki nunca foram assim tão fracos…
O seu corpo começou a emanar eletricidade por cada poro…

- Isto ainda agora começou...
O velho Kihara fitava intensamente a metade do corpo do Imagawa que estava em água, recusando-se a materializar-se na forma humana. Graças a essa concentração, notou que essa mesma água se movia de forma invulgar. Sem o uso de selos e a uma velocidade estonteante, moldou-se em três lanças pontiagudas que se dispararam rapidamente na direção de Kihara.
- Akatsuki, sabes quem eu sou? – Perguntou o velho retoricamente, desviando-se da primeira lança e revestindo as suas mãos num chakra dourado, tornando-as fortes o suficiente para afastar as outras duas lanças com apenas uns simples movimentos – Monge Superior deste templo e principal guarda das Placas das Almas, Kihara Mugeto-sama! Não sou alguém que uma criança como tu seria capaz de derrotar!
Revelando uma agilidade surpreendente, o monge conseguiu aproximar-se subitamente de Katsu sem que este tivesse tempo de se afastar. Tentou uma palmada, seguida de outra e uma patada, mas o Imagawa conseguira esquivar-se de todas. No entanto, o seu peito e ombros direitos permaneciam sobre a forma de água. Essa mesma água moldou-se numa súbita cara de um lobo, dotado de uma larga mandíbula. A mandíbula não deu tempo de reação, mordendo o ombro esquerdo de Kihara e jorrando sangue para o solo. O velho rugiu de dor e espanto, atingindo o tórax do Akatsuki com um potente pontapé, voltando a fazê-lo colidir contra a parede atrás de si.
- E eu sou Katsu Imagawa-sama, velhote! – Gargalhou, revelando que a perna de Kihara atingira apenas uma larga massa de água – Sou o Elementalista oficial da Akatsuki, Mestre em Suiton. Acho que sou mais que suficiente para te derrotar!
A massa de água atingida pelo pontapé de Kihara explodiu violentamente em intensas rajadas e pequenas ondas, afastando e causando diversos danos ao longo do corpo de monge. Este colocou os braços à frente do seu corpo, num instinto defensivo, sentindo o sangue do seu ombro a descer pelo seu braço, a sua temperatura quente a contrastar com a fria da água.
- Nunca vi ninguém a controlar a água de uma forma tão rápida e eficaz, sem usar sequer selos! – Avaliou o monge, vendo que da água do Ninjutsu anterior se moldou até o corpo de Katsu surgir novamente à sua frente – Admito que és impressionante, Katsu. Podes até conseguir derrotar-me, mas as Placas já devem estar tão longe!
O cenho do Imagawa franziu-se.
- Como assim?
- Antes de teres chegado, ordenei que uma pessoa muito especial escapasse de toda esta catástrofe. Conhecendo-o a ele e à sua habilidade, a esta hora já Gaara-sama está ciente do que está a acontecer aqui e as Placas tornam-se inacessíveis à Akatsuki.
Era uma tentativa de irritar apenas o seu adversário, cortar-lhe qualquer plano que ele pudesse estar a preparar para derrotar Kihara. Sabia muito bem que Sorata não era suficientemente habilidoso para a esta altura estar com Gaara, pelo que teria de arranjar-lhe tempo suficiente. As suas mãos afastaram-se uma da outra, traçando pequenos símbolos e, num momento para o outro, todo o corpo as acompanhou numa peculiar dança.
- Seishi Tsuki no bōei!
Sem parar a longa sequência de palavras que começou a produzir e continuando a sua dança, uma pequena figura foi-se desenhando nas suas costas, revelando uma figura masculina em tons dourados. Estava sentado sobre os seus joelhos e, com os braços, rodeava Kihara como um abraço protetivo. Ainda sem parar o infinito cântico, o monge aproxima-se de Katsu num veloz salto. Avançou com a palma da mão ante o peito do seu adversário, falhando uma sucessão de ataques físicos. Todavia, para desgosto do Akatsuki, a velocidade de ataque do monge incrementara consideravelmente, não dando qualquer chance de concentração de chakra ou qualquer outro contra-ataque, pelo que a defesa em si já era demasiado apertada. O impacto terminou com os punhos de Kihara, embebidos num tom dourado, a colidirem com a face do seu inimigo. O Imagawa não se preocupou com o desfecho, confiante que o seu corpo aquático o salvaria de qualquer golpe físico, e nesse momento sentiu algo estranho. O chakra dourado das mãos de Kihara afastou-se do seu criador, mesclando-se estranhamente com a água do corpo de Katsu. Nunca antes acontecera tal coisa, pelo que o Nukkenin não soube bem o que fazer quando a sua própria água ficou dourada. Afastou-se de um Sunshin, assustado que alguma doença pudesse ter tomado conta do seu corpo, mas o chakra dourado parou de alastrar-se dentro de si.
- M-mas, que merda é esta? – Katsu tentou aglomerar chakra na área dourada do seu corpo, mas a água não lhe obedecia. Tentou uma e outra descarga, inúmeras, sucessivas, todas em vão. O pânico invadia o corpo do criminoso a cada descarga de chakra desperdiçada.
- Senzoku no Sai é um chakra especial de nós, monges! – Explicou Kihara, relaxando a sua postura enquanto via o seu oponente assustado – Este nosso chakra é capaz de afetar qualquer coisa, até mesmo um corpo feito unicamente de água como o teu – Katsu fitou-o, incrédulo com o que ouvia – Pensavas que eu não conhecia o Suika no Jutsu? Eu não sou apenas mais um adversário, meu jovem! – O chakra dourado soltou uma pequena onda de poder desconfortável ao longo do corpo do Imagawa – Tenho muito mais conhecimento do que tu alguma vez terás! – Dois braços surgiram da zona infetada, apertando as pernas e infetando também elas com chakra dourado – Foste derrotado desde que o meu chakra entrou no teu corpo… - Das pernas, dois novos braços emergiram para apertarem fortemente os de Katsu, infetando-os que, por sua vez, criaram outros dois novos braços que abraçaram o torso, infetando-o. Gradualmente, todo o corpo do criminoso estava repleto sobre um mar de braços dourados e o chakra de Kihara percorria-lhe por todo o seu corpo. Tentava lutar contra isso, mas as suas concentrações eram repelidas pelo chakra dourado e os braços que dele emergiam imobilizavam por completo o físico do Imagawa.
- O teu corpo está preso e não podes transformar-te em água. Elogio a tua tentativa, Katsu Imagawa, mas vais ficar preso aqui eternamente…