Konohanasakuya-hime

Entrou no seu apartamento munido com a Gunbai, preparado para que qualquer coisa lhe saltasse para cima. Para seu espanto deparou-se com Takeshi, sentado ao lado da mesa totalmente entretido a saborear uma das maças roubadas por Sekima.
- Tu? - Surpreendeu-se o Imagawa, relaxando o aperto no leque para coloca-la novamente atrás das costas - Mas que raios estás a fazer aqui?!
O Uchiha sorriu quando reparou na entrada do seu professor, dando uma última trinca no fruto antes de o deixar cair sobre a mesa enquanto se afastava da mesma. Aproximou-se de Katsu e estendeu a mão.
- Não és só tu que podes brincar, Katsu! - Falou muito emotivo, olhando nos olhos do seu professor, desviando para a mão numa tentativa de dar a entender o surpreso Imagawa que era suposto apertarem as mãos - Inscrevi-me no Exame Chunnin já que os Nukenin também podiam participar. Encontrar-te aqui é só uma feliz coincidência.
Ainda incerto sobre como reagir ao pupilo que quase matou, o Akatsuki apertou-lhe a mão com alguma relutância. O rapaz parecia muito mais velho, tinha mais cabelo e alguma barba, além de umas peculiares tatuagens na cara. O que lhe terá acontecido?! Quando Takeshi abriu a boca para dizer qualquer coisa, a Midori surge na porta da maçaneta queimada munida com uma pequena espada de folhas cuja ponta percorreu toda a sala até parar no sorriso do Uchiha.
- Takeshi? Que estás aqui a fazer? - Perguntou a adolescente, dando uma última olhada ao apartamento antes de abaixar a espada e aproximar-se da estranha reunião entre professor e aluno - Não me digas que foste tu que queimaste a maçaneta...
O ruivo gargalhou numa forma de resposta afirmativa, o que fez Ayame suspirar pelos métodos demasiado agressivos do mesmo. Quando parou de rir, Takeshi olhou então para Katsu e Ayame, que estavam parados um ao lado do outro, e foi a sua vez de se surpreender.
- Então era mesmo verdade que estavas a fazer equipa com o Katsu! - Disse todo emotivo, sorrindo para ambos - Nunca fui muito de coincidências, mas olha-me isto! O meu professor favorito e a minha amiga de infância!
O Imagawa percebeu nesse momento qual era a conexão entre Takeshi e Ayame pelo que não se quis intrometer. Lembrou-se das suas amigas de infância (mais concretamente do Tsutao) e como adorava estar com elas. Perdeu-se nesse momento a pensar nelas e uma pequena tontura chicoteou-lhe a cabeça. A Midori e Uchiha falavam entre si sobre assuntos banais, não reparando que o Imagawa cambaleara para trás e se vira obrigado a segurar na porta.
- Papi? - Perguntou uma preocupada Sekima, que até então se escondera no corredor, surgindo pelo marco e fitando o seu pai com os intensos olhos dourados - Estás bem?
O Akatsuki respirava ofegantemente e o seu equilíbrio dependia da porta a que se segurava. Acabou por inspirar profundamente e ergueu a sua cabeça, olhando fracamente para a criança que o fitava com tanta preocupação no doce olhar. A Ayame reparou nesse momento no estado do seu parceiro, socorrendo-o com alguma pressa e prestando-se a ajudá-lo em tudo o que fosse necessário, enquanto Takeshi deixou-se ficar para trás, alheio a toda a situação, fitando o seu professor com bastante atenção e interesse.
A Midori acabou por ajudá-lo a sentar-se na mesa, dirigindo-se para a cozinha sobre o pretexto que aquilo era fraqueza por não terem comido. A sua filha correu para sentar-se no colo dele, mantendo sempre a cabeça erguida para ver o suor a escorrer da sua face. Esticou um pouco do manto azul de Katsu e esticou-o para lhe limpar a cara com bastante gentileza. Takeshi continuava sem fazer nada, puxando uma cadeira para si e sentando-se à frente do seu professor tonto, observando cada movimento da criança. Parecia absorto nos seus pensamentos e preocupado com alguma coisa, mas aparentava não conseguir dizer nada.
Quando Ayame apareceu a segurar num tabuleiro com alguma comida, afirmando que aquilo seria suficiente para recuperar algumas forças, o Uchiha ergueu a sua cabeça e tentou fitar os olhos esquivos do Imagawa.
- É ele, não é? - Perguntou, sem conseguir esconder alguma raiva no seu tom de voz que despertou a atenção de Sekima, que parou de limpar a face do seu pai com o manto, e de Ayame, que por sua vez estacou, pousando sobre a mesa um punho fortemente cerrado - O cabrão está a querer mostrar-se?
A Midori arregalou os olhos de espanto pela súbita agressividade, indecisa entre repreender o seu amigo ou afastar a Sekima da situação peculiar que se começava a criar.
- A quem é que estás a chamar cabrão, oh palhaço?!
Todos se assustaram com a súbita voz grossa que saiu da boca do Imagawa, seguida por uma intensa tosse que quase fez Sekima cair do colo se não se tivesse abraçado ao pescoço do pai. Quando pareceu cessar, um Sharingan fitou Takeshi.
- Para quem chora muito não achas que falas demais, Takeshi?! - Voltou a falar Katsu, deixando Ayame e Sekima cada vez mais surpresas com a situação - Tsutao, já chega! Não chega nada, pensas que vou deixar este gajo andar aqui a ofender-me?! Ele já vai ver do que é feito um verdadeiro Uchiha! Desta vez mato-o mesmo! - Urrou, erguendo-se, desequilibrando Sekima que não conseguir evitar cair atabalhoadamente no chão e magoar-se no cotovelo, gemendo pela dor. Isso pareceu acordar Katsu que conteve o seu punho, esforçando-se tanto para o levar em frente e acabar o ataque como para evitar de faze-lo.
Ao ver a criança a cair e magoar-se foi a gota da Ayame, que avançou bruscamente em frente e pousou violentamente o tabuleiro em cima da mesa, espalhando alguma comida e água que saltou borda fora devido ao impulso. Quando se preparou para mandar um par de gritos, a mão de Takeshi apareceu para a impedir de falar.
- Este cabrão de merda aqui é o Tsutao Uchiha, Ayame. Parece que ainda não se apresentaram! - Falou com algum rancor, criando uma pequena chama que se manteve acesa na sua palma da mão - Ele não é o Katsu. Na verdade nem é metade do ninja que ele é. É apenas um "adolescentezeco" que não têm onde cair morto. Queres festa? Eu dou-te o fogo de artifício!
O fogo na sua mão começou a estalar, preparado para uma pequena explosão de chamas que certamente deixaria Tsutao imediatamente fora de combate. No entanto, o olhar dele deixou de se focar em Takeshi, desviando-se para um pequeno objeto em cima da mesa. O chifre estranho, Kouseki no Keiteki, que o Katsu obtivera daquele velho estranho e fedorento. Não soube explicar o porquê, mas sentiu-se incontrolavelmente atraído para o chifre. Quando as chamas faiscaram das mãos do Takeshi na sua direção, limitou-se a fazer um movimento horizontal com o braço para soltar no quarto uma poderosa corrente de ventos que projetou tudo o que estava à sua volta para longe de si, sobrando apenas o chifre dourado segurado pela mão livre. O ruivo foi projetado contra a parede atrás de si, levando de seguida com a mesa e o tabuleiro de comida por cima para sua ainda mais intensa dor, a Midori bateu dolorosamente contra uma mesinha que também fora projetado com o vento, pousando no chão inconsciente e Sekima era a única que conseguira se segurar firmemente ao solo.
Finalmente sem nenhum incómodo, Tsutao ergueu o chifre e analisou cada um dos seus constituintes, passando cuidadosamente o dedo em cada uma das joias que o enfeitavam. Acabou por não conseguir evitar que o levasse aos lábios, enchendo profundamente os pulmões e expirando sobre o mesmo. Um poderoso e longo assobio projetou-se do chifre, intensificando-se a cada lufada de ar de Tsutao. O seu som era tão imponente que acabou por acordar Takeshi e Ayame, que à medida que iam recuperando os sentidos se assustavam com o que viam à sua frente, e alastrar-se ao longo de Cha no Kuni. Era tão poderoso que todos podiam ouvir e se assustavam com o mesmo, lembrando a muitos um inevitável e temível grito de guerra. As pessoas cessaram os seus afazeres, mantendo-se atentas ao som à medida que este se perdia pelos horizontes. Nunca ninguém ouvira algo semelhante...
Quando parou de tocar ficou mais uns momentos com o chifre na boca, tirando-o de seguida e ficando a observá-lo atentamente. Parecia confuso, como se não soubesse o que até então fizera, olhando então para Ayame e Takeshi que, com custo, se iam erguendo com alguns resmungos de dor. Viu os olhos flamejantes do ruivo a fitarem-no antes do ambiente ficar gradualmente negro. Assustou-se com a estranha sensação já que não estava tonto nem perto de desmaiar, o cenário à sua volta é que estava simplesmente a ficar negro. Depressa já não se encontrava no conforto do apartamento do seu alter-ego, estando agora completamente submerso numa peculiar escuridão. No entanto, uma convidativa aura impedia-o de assustar com a súbita nova dimensão, tranquilizando-o e permitindo-lhe respirar profundamente. Essa mesma aura convencia-o a não sair daquela exata posição, nem sequer mexer-se um pouquinho que fosse. Imóvel, reparou num vulto à sua frente que, gradualmente, ia mostrando os seus traços. Era uma figura feminina, muito maior que um humano normal, cujos cabelos feitos de lianas com flores de diversos tipos e cores estavam espalhados ao longo das suas costas. Esse facto não era estranho se a sua face oval não fosse completamente verde com pequenos pedaços de musgo espalhados ao longo da pele atabalhoadamente, complementando-se com os seus olhos esmeraldas intensos. As suas roupas eram parcas, tratando-se unicamente de duas folhas largas com o tamanho perfeito para cobrir os seus seios e de um conjunto de pequenas raízes e caules de plantas para cobrirem a sua região íntima. O restante corpo estava completamente descoberto, revelando-se completamente verde e enfeitado aleatoriamente com musgo, cogumelos e outras pequenas plantas e flores que faziam parte da mulher como se de órgãos se tratassem. O olhar intenso daquele ser, que só podia ser descrito como divino, encontrou o agressivo de Tsutao, que esperava pacientemente pelo que pudesse acontecer, não demonstrando uma ponta de nervosismo ou receio.
- Eu quero apenas falar com o Imagawa, Uchiha. Retira-te. - Pediu o ser com uma voz serena e bastante calma, não se preocupando com a pequena cobra que surgiu das costas do seu pescoço e serpenteou pelo tronco abaixo até desaparecer atrás do abdómen.
O adolescente não reagiu bem à pacífica ordem, sorrindo sarcasticamente. Quando se preparou para reclamar, uma mão com um nenúfar nas costas esbofeteou-lhe a cara, afastando-se de seguida. Nesse instante, o Imagawa sentiu-se novamente no corpo, queixando-se imediatamente da dor da estalada.
- Ótimo momento para recuperar o corpo, Tsutao! - Queixou-se, sentindo ainda a quente dor na bochecha.
- Fui eu quem vos trocou, Imagawa. É apenas contigo que tenho de falar, não com o imprudente. - Katsu olhou, por fim, para a mulher celestial à sua frente. Era muito diferente estar realmente à frente dela ao invés da forma "espiritual" devido à aura radiante e acalmadora que ela conseguia transmitir. Os pequenos animais que percorriam o seu corpo lembraram-lhe inexplicavelmente o clã Imagawa - Por fim, o Kouseki no Keiteki foi tocado.
A referência ao chifre dourado pareceu acordar Katsu, que começou a olhar à sua volta. Realmente estava num sítio diferente do que o seu apartamento. Pensou que aquilo era um Genjutsu, uma qualquer espécie de armadilha, mas a energia irradiada pelo ser feminino limpava a mente de quaisquer pensamentos negativos ou de cautela, deixando apenas uma sensação de calma e hospitalidade.
- Sim, o Tsutao Uchiha é o Tenkei de Susano`o em conjunto com o seu irmão, Yasuo Uchiha, mas isso não é algo que interesse para agora. - Esta informação prendeu a atenção do Akatsuki, principalmente pela referência ao nome do irmão de Tsutao, que fitou o olhar esmeralda da mulher - Eu sou a deusa Konohanasakuya-hime, a criadora e protetora da Natureza em todo o seu esplendor. Também sou a fundadora dos Imagawa. É uma honra, não é?