A fundadora dos Imagawa?! A garganta de Katsu engoliu em seco e os seus olhos brilharam enquanto observavam a figura celestial à sua frente. Embora algo diferente do seu padrão habitual, o Akatsuki achou aquela "mulher" (se é que poderia ter a ousadia de a tratar assim) extremamente bela. Ela refletia ao longo do seu corpo tudo aquilo que, desde cedo, os Imagawa aprenderam a respeitar e a venerar: a Natureza. Apesar de ainda não entender bem a situação, o joelho e um punho fechado foram de encontro ao chão, acompanhados por um respeitoso abaixar da cabeça.
- Sim, é uma honra. Peço perdão se, de alguma forma, a minha outra pessoa lhe possa ter faltado ao respeito. - Pediu, cordialmente, surpreendendo-se a si mesmo com a sua escolha de vocabulário. A deusa não reagiu, pelo que concluiu que se calhar devia dizer mais alguma coisa - Sinto-me lisonjeado por me ter sido concedida a dádiva de poder falar com tamanha autoridade.
- Não precisas de ser tão informal, Imagawa. Ergue a tua cabeça. Gosto de falar com as pessoas que partilham da mesma paixão que eu. Ignorando os seus defeitos, o clã Imagawa é das criações que mais me orgulho. - A voz da deusa era serena e convidativa, convencendo Katsu a levantar a sua cabeça, mantendo ainda assim o joelho e punho contra o chão. Os seus olhos voltaram a apreciar cada pormenor do corpo celestial, nunca conseguindo achar uma parte feia em todo o seu esplendor, independentemente de quantas vezes olhasse - Por muito que apreciasse continuar esta conversa contigo, outros assuntos me trazem aqui. Como estás consciente, o teu alter-ego tocou o Kouseki no Keiteki.
- Estive convencido desde o início que o Tsutao era apenas mais uma parte de mim. Nunca pensei que pudéssemos ser a mesma pessoa e simultaneamente tão diferentes um do outro. - O criminoso escolhia cada uma das palavras proferidas cuidadosamente, algo que não era habitual na sua personalidade descontraída, com o receio de que uma frase em falso poderia ofender a tão calma Konohanasakuya-hime.
- O fenómeno que está a acontecer entre ti e o Uchiha é, deveras, interessante. Apesar de esse não ser o assunto da nossa reunião, acho que posso dar uma breve explicação. O Tsutao Uchiha é o responsável pelo corpo: foi a sua primeira personalidade e quem mais tempo viveu com ele. No entanto, quando Tsutao perdeu a memória, o seu cérebro fez algo único e que eu nunca antes vira. Todo o cérebro humano pode ser dividido por três partes psicológicas: ego, superego e "Id". - O semblante de Katsu mostrou a sua estranheza perante um assunto tão estranho e complexo, mas esforçou-se para permanecer atento - Aquando a perda de memória, os teus dois "egos" entraram num conflito entre si e, gradualmente, separaram-se. O ego, representado pelo Tsutao, revela o seu egoísmo e é movido pela única vontade de primeiro satisfazer-se antes do outro. É instintivo e bastante emotivo, o que combinado com a habitual personalidade sensível de um Uchiha gera alguém tão problemático como o Tsutao. O superego, representado por ti, é o lado mais racional e influenciado pela cultura em que nasceu. Assim sendo, podemos afirmar que vocês são a mesma pessoa e, ao mesmo tempo, não o são. Um pode viver sem o outro, pois, ao longo do tempo, o cérebro foi criando um "novo" superego para o Tsutao e um ego para ti, obviamente menos potentes que os normais.
Os olhos do Imagawa piscaram quando a deusa se calou. Perante essa única reação, a mulher celestial permaneceu silenciosa, consciente que o humano estava a digerir toda a informação.
- Então... é por isso que ele é um Tenkei e eu não? - Foi a única coisa que veio à mente do Akatsuki.
- Sim. Ele foi abençoado por Susano`o quando ainda era novo, em conjunto com o seu irmão, Yasuo Uchiha, e desde então têm evoluído significativamente as suas habilidades, graças a essa dádiva. No entanto, quando se perdeu em conjunto com a sua memória e apareceste tu, as esperanças de Susano`o foram diminuindo à medida que a cultura dos Imagawa te iam influenciado a cada dia. Quando se percebeu que eras demasiado pacifista, como o restante clã que te acolheu, abandonou qualquer ideia de que o Tsutao voltaria a aparecer. Sempre tive o desejo de te nomear como o meu Tenkei, mas como o teu corpo já está marcado pelo poder de Susano`o, nunca o pude fazer. Só estou aqui a falar contigo sobre um acordo feito com Susano`o. Estou a abdicar muito para poder estar aqui à tua frente, Imagawa.
Um súbito e inexplicável rubor subiu pelas faces de Katsu. Sentiu-se culpado por seja o que fosse que a deusa estava a abdicar, voltando a abaixar a cabeça num mudo pedido de desculpas.
- Não têm problema. Podes compensar as minhas perdas ao participares no Torneio dos Deuses sobre a minha alçada. O acordo feito com o Susano`o dá-me total responsabilidade pelas tuas ações, pelo que, de certa forma, te tornaste o meu Tenkei. - O olhar de Katsu ergueu-se e não conseguiu evitar cruzar-se com as esmeraldas da sua deusa - Não vou poder dar-te qualquer bênção, pois essa já foi dada pelo teu deus anterior, mas poderei ajudar-te com o que estiver ao meu alcance.
- Então... Vou ter de participar no Torneio dos Deuses, minha senhora?
- Não é uma obrigação, contudo, peço-te que ponderes bem a proposta. Caso sejas vitorioso, dás-me poder e eu dou-te a possibilidade de concretizar qualquer desejo. Acho que a tua ambição acabará por falar mais alto...
Os dedos do seu punho fechado crisparam-se. Qualquer desejo... Era simplesmente demasiado bom! Podia desejar que o seu clã nunca chegasse ao seu estado atual ou então que o seu sonho fosse cumprido sem qualquer esforço! Apesar de estar consciente que disputaria este desejo contra outros Tenkei, que certamente seriam tão ou mais fortes que ele, a realidade do desejo era demasiado tentadora.
- Creio que só um tolo negaria tamanha dádiva, minha senhora. - Falou com convicção, procurando sempre que possível fitar os olhos da sua deusa - O que preciso de fazer?
- Por esta altura, todos os outros Tenkei estão numa dimensão, semelhante a esta, a tomarem a mesma decisão que tu. O Torneio dos Deuses realizar-se-á daqui a dois meses, numa montanha específica do País do Trovão, longe de Kumogakure. Para a encontrares, precisarás apenas de chegar ao Haki no Tanima, o Vale da Ambição. O resto ser-te-á relevado quando lá chegares. Não te esqueças, Imagawa. - O Akatsuki ia apontando todas as indicações mentalmente, repetindo-as para si vezes sem conta como precaução para não esquecer nenhum detalhe - Neste Torneio, será avaliado a capacidade de liderança e de reunir pessoas dispostas a lutarem pelos teus ideais. Estou ansiosa para ver que tipo de exército reunirás.
A suposta felicidade que emanou da Deusa surpreendeu Katsu, que o levou a sorrir. Pela sua mente sondaram as imagens do seu clã e Kimera, com os seus Fukeru. As suas forças combinadas poderiam formar um exército poderoso o suficiente para ganharem o Torneio. Todavia, ele era agora um Akatsuki (pior ainda, conhecido como o líder). Como reagiria a sua família quando eles lhe aparecesse à frente quase um ano após o seu aparecimento? E Kimera? Decerto que o esfolaria vivo...
A Deusa continuava estática na sua posição, as plantas no seu corpo a abanarem de acordo com um vento que não se sentia naquela dimensão. O seu olhar verde intenso perscrutava Katsu, à espera de uma resposta que ele ainda estava a pensar como dar. Quando se decidiu a fazer algumas perguntas sobre o seu clã e respetiva origem, uma estranha dor nas costas do seu pescoço distraiu-o. Ao início, assemelhou-se a um incomodo formigueiro que poderia ser ignorado, mas a dor foi crescendo, para lá do suportável. Sentiu que algo se mexia e crescia naquela zona, embatendo contra as paredes da sua pele e tentando rasga-las ou devora-las. Não tendo tempo de sentir nojo do seu próprio corpo, o Imagawa ajoelhou-se consoante a dor se alastrava desde a sua espinha até todo o corpo. Nunca antes sentira algo tão agonizante e intolerante, e já passara por coisas indiscritíveis. Sobre um olhar atento e impassível da Deusa, o seu corpo contorceu-se consoante um amontoado de carne ia crescendo, como se realmente algo tivesse a nascer misturado com tanta agonia, até que, por fim, se separou do corpo de Katsu. Este sentiu de imediato um intenso alívio que desvaneceu toda a dor e permitiu ao seu corpo relaxar. Pensou que iria morrer, dando graças por aquilo ter terminado. Suando e arfando ofegantemente, olhou para o lado e viu o amontoado de carne, com o tamanho de uma bacia de considerável tamanho, que se havia separado de si. Por momentos ponderou, incrédulo, que uma parte do seu corpo se havia dividido. Sobressaltou-se quando aquilo se moveu.
- M-mas que...
A massa de carne dançava freneticamente, como se mãos invisíveis a moldassem que nem plasticina. Aos poucos foi-se definindo a forma de uma mulher nua, com formas acentuadas e bastante atraentes. Isso faria Katsu babar-se com um corpo tão esbelto, se a sua forma final não o assustasse ligeiramente. O cabelo que surgiu ganhou diversas tonalidades de cor (semelhante a um arco-íris osbcuro), os olhos uma cor azul e as mãos um verde intenso, quase radioativo. Nesse momento, todas as dúvidas fluíram como um rio.
- G-gaina?! O que estás aqui a fazer?! E tu... acabaste de sair do meu corpo?! - O Imagawa acabou por não conseguir perguntar tudo o que vinha à sua cabeça, devido tanto à situação que se desenrolava à sua frente como ao sentimento de nojo do seu próprio corpo que teimava em não desaparecer.
A mulher ignorou o seu subordinado, esticando o seu corpo e estalando cada um dos seus ossos em sons secos e enjoativos. A sua nudez parecia não a incomodar minimamente, tal como a torrente de perguntas que Katsu lhe lançava. A sua atenção apenas se incidiu em Konohanasakuya-hime.
- Depois de tanto, tanto tempo! Finalmente, outra oportunidade se ajoelha perante a minha vontade! - Falou a loira, ignorando propositadamente o olhar inquisidor de Katsu.
- Gaina! - Pela primeira vez, a voz da deusa foi puramente emotiva, revelando uma raiva e ódio que sobressaltaram o Imagawa, que ainda não se podia mover devido à aura que o rodeava - Não acredito que o descaramento de violar as leis humanas continua a motivar estas tuas atitudes descabidas!
- E eu nem acredito que ainda me tratam como mais uma humana qualquer! - Respondeu Gaina a meio de uma risada sarcástica, desviando a sua atenção para Katsu - Tenho de te agradecer, Imagawa. Sem os teus esforços, eu não saberia onde seria o próximo Torneio dos Deuses. Não te preocupes, desta vez não falharei e construirei o mundo que tanto ambiciono.
Ainda incrédulo, Katsu não conseguia deixar de olhar para a líder à sua frente. Um sorriso cruzava a sua face. Ele nunca vira algo assim em toda a sua vida. A loucura que nele radiava era tão... intensa!
- A hora em que humanos e deuses se vão cruzar aos meus pés aproxima-se! - Sibilou a Moremane, levantando ambos os braços - O Haki no Tanima, no País do Trovão. Estou-te extremamente agradecida, Katsu!
- Gaina! - Vociferou este, tentando mover-se mesmo sabendo que isso não lhe era possível - Não te esqueças do prometido! O meu objetivo também terá de ser cumprido!
- Lamento, meu querido Imagawa... - O tom de voz de Gaina era pura e unicamente insano. Ela nunca demonstrara aquela sua faceta antes! - Foste apenas um patinho em todo o meu esquema. Sempre achei a confiança dos humanos a principal causa da sua estupidez. Ajudo-te a descobrires o teu passado e a recuperares o teu Sharingan e tu começas a confiar cegamente em mim. Nunca tive interesse em qualquer ambição tua, humano. Nunca tive interesse nas futilidades da tua raça, é por isso que a planeio extinguir e criar uma muito melhor, uma que se assemelhe à minha imagem e seja merecedora de até se equiparar com os deuses! - Ela gesticulava emotivamente à medida que ia falando, olhando intensamente para Katsu - E tu vais ser o meu bode expiatório, seu tolo! Enquanto todos andam preocupados com o aparecimento do "Katsu, o líder da Akatsuki!" eu já vou estar a meio passo de virar a vossa Deusa! Lamento, mas és apenas mais uma peça da minha mão. Espero que não guardes rancor, meu querido...