A elite de Gaina, parte 2

Submerso no constante perfume das flores, Katsu deixou que a Gunbai caísse no chão, como se não sentisse mais a necessidade de ter uma arma. Por muito que desejasse mexer o corpo, a invulgar sensação de felicidade e bem-estar que o percorria convencia-o que estar dentro da nuvem de pétalas era o melhor que podia fazer naquele momento. Nem sabia ele que um sorriso involuntário e demasiado feliz lhe desenhava o rosto.
Muitas das pétalas à sua frente afastaram-se, criando uma pequena janela na qual surgiu a fria Sasami com as mãos juntas num único selo.
- Oiroke no Jutsu! - Proferiu quando soltou toda a concentração de chakra, cobrindo-se com uma nuvem de fumo.
Quando o fumo se dissipou, o Imagawa não conseguiu controlar os seus instintos. À sua frente estava a própria Kimera, sorridente, esbelta e nua. Ela abriu os braços, proferindo algumas palavras convidativas de forma bastante sensual. Colocou-se em diversas poses com o corpo, sempre com aquele sorriso sedutor que lhe era característico, provocando Katsu com as curvas que ele sempre desejou ter em sua posse tão fervorosamente. Na visão dele, Kimera tornou-se o centro de tudo: não havia mais Sasami, mais Sekima, mais multidões nem mais flores. Existia apenas a Kimera nua e toda a sensualidade que aquele corpo incrível apresentava.
- Vêm.
Katsu caminhou calmamente em frente, sedento por poder sentir a pele macia da sua amada e poder, após tanto tempo, abraçá-la. Quando chegou perto dela, sentiu o perfume ainda mais intenso. Não conseguia controlar a atração e também não o desejava. Kimera esticou os braços e enlaçou-os à volta do pescoço de Katsu, aproximando os sedutores lábios aos dele, evitando o toque. Ao invés de beijarem-se, ela virou a cara e passou a língua vorazmente na pele dele, soltando um gemido de prazer, como se fosse uma predadora que saboreava o gosto da presa antes de a devorar.
- Tanto chakra diferente, tão saboroso! - Comentou, apertando ainda mais firmemente o Imagawa ao seu corpo, claramente disposta a não o deixar escapar - Já provei muitos humanos, mas o teu sabor é tão único! Delicioso...
Para satisfação de Katsu, os lábios dela finalmente aproximaram-se dos dele. O contacto estava tão próximo e a tensão sexual apenas aumentava...
- Suiton: Mizurappa!
O momento do casal foi interrompido por um súbito fluxo de água que os atingiu violentamente. Kimera rugiu mais de frustração do que de dor, desaparecendo numa nuvem de fumo e dando lugar novamente a Sasami. Katsu surpreendeu-se com o súbito desaparecimento da sua amada, agradecendo pelo Suiton que o despertou da atração induzida pelo Genjutsu olfativo das pétalas. No entanto, sentia-se demasiado exausto, talvez um efeito secundário do aroma das pétalas, para aproveitar o momento de fragilidade da sua inimiga para a poder atacar. Olhou para o lado e viu uma Sekima com a mão em círculo à frente da boca que usara para expelir o jato de água. O seu olhar parecia decidido, contrastando com os tremores no corpo que revelavam o seu medo.
- Tu! - Rosnou Sasami, virando-se para ela e fazendo a pequena Imagawa dar um passo atrás - Nunca consegues perceber onde é o teu lugar, pois não?! Maldita traidora!
A Akatsuki aproximou-se da criança com um salto, ignorando o rugido de Katsu atrás de si que não se conseguia mover devido à paralisação do aroma. Duas flores surgiram entre o manto, as suas pétalas tão afiadas como espadas, singrando ante o pescoço de Sekima. Por reflexo, a pequena criou duas lâminas de água em torno dos seus braços e rasgou as flores com facilidade. Todavia não teve tempo de ficar satisfeita, pois as flores explodiram quando foram rasgadas, apanhando-a desprevenida. O seu corpo franzino foi impulsionado, aterrando violentamente na relva entre gemidos de dor e frustração. Moentos depois levantou-se, a custo, e o coração de Katsu parou. Tinha mais de metade das roupas rasgadas e a pele tão queimada que se podia notar a carne viva. Dos seus olhos fluíam dois rios de lágrimas e toda a restante cara era um retrato perfeito de pura dor. Não obstante, ali estava ela, de pé, a enfrentar Sasami, por muito inferior que fosse. Voltou a criar duas lâminas de água e continuou a encarar a sua inimiga.
- Não deixo... que faças mal... ao papi!
Por fim, Katsu conseguiu mexer um braço, com muito esforço. Ia recuperando, aos poucos, o controlo do seu corpo. Graças à prestação de Sekima, as flores não emanavam mais do seu aroma, o que retirava poder à paralisação. Só tinha de continuar a forçar o movimento e depressa salvaria a sua pequena!
A criança brandiu as lâminas e, num veloz Shunshin, colocou-se entre Sasami e o seu pai paralisado. Mantinha uma posição firme, por muito medo que sentisse de toda a situação ou que a exposição da carne ao ar frio lhe ardesse tão intensamente.
- Kazue... Mesmo após estes anos, mesmo depois de teres sido derrotada, continuas a ser assim contra a tua própria família?! - Perguntou Sasami, deixando que múltiplas flores rodeassem o seu corpo - Não sou tão benevolente quanto foi a nossa mãe, miúda impertinente. Terei a certeza de te matar!
A pequena não esboçou qualquer reação, arfando ofegantemente e soltando ocasionais gemidos de agonia. Ao contrário do seu pai, que na quietude da paralisação não queria acreditar no que acabara de ouvir.
- Responde-me, Kazue! Porquê rebelares-te à pessoa que te criou e ensinou com tanto amor?! Por causa da decepção que deixaste na nossa mãe, nós não fomos acarinhados tanto como tu foste. O que tens tu de tão especial?! Só porque foste a única a nascer com o mesmo dom que a mãe isso torna-te melhor que eu ou que o Arami?!
Continuou sem dizer nada, suspirando profundamente na tentativa de calmar a sua respiração. A pele queimada voltou ao seu estado natural automaticamente, como se nunca lhe tivesse acontecido nada.
- O Katsu é a minha mãe e o meu pai. Não preciso de mais ninguém... - Respondeu sucintamente, mantendo a água nas suas lâminas fluída para que não perdessem compostura. Depois da revelação de Sasami, parecia menos preocupada em manter as aparências, pelo que deixou simplesmente de fingir estar cansada ou que a pele, outrora queimada, a magoava - Se sabes que não me podes matar, deixa-nos em paz, Sasami.
A mudança de postura da sua própria filha apanhou Katsu desprevenido.
- Que eu me lembre, querida irmã, tu é que estás em desvantagem. A Gaina contou-me que selou a tua "Maturidade" com a Placa de Alma! É por isso que uma mulher de trinta e dois anos como tu continua com uma aparência e mente de uma criança de sete! Olha para ti! Tremes como uma criança desamparada! O Jintai Soujuu faz de ti imortal e é só disso que te tratas. Uma pessoa selada para a vida a comportar-se e a ser uma criança. Como é a sensação de viver mais de vinte anos consciente que nunca crescerias, ao contrário de todos à tua volta?!
As emoções em Sekima explodiram, levando-a a chorar novamente. Ser relembrada de toda a tormenta que sofreu por não conseguir crescer, tanto física como psicologicamente, antes de conhecer Katsu, não era algo que conseguia controlar. Ecoava a sua tristeza em gritos e mais lágrimas, tentando afagá-las com os seus braços em vão, pois apenas apareciam mais de seguida. O corpo de Katsu mexeu-se, muito lentamente, fazendo-o concluir que em poucos segundos teria a total liberdade recuperada. O seu coração batia de nervosismo pelo que acabara de ouvir, mas sabia que isso não era um assunto a ser pensado no momento. Tinha de matar Sasami e salvar Sekima!
- Só de pensar que em outros tempos foste capaz de derrotar a nossa mãe e que agora choras só por uma pessoa dizer uma verdade. Realmente, nunca pensei que a minha irmã mais velha fosse assim tão decepcionante... - Cuspiu Sasami, olhando com gradual desdém para Sekima, ainda ocupada a limpar as lágrimas - Há uma maneira de matar-te, mesmo que o Jintai Soujuu te cure, e vou tratar de ti após matar ali o outro. Tanto tempo a aturar a tua infantilidade, finalmente posso pôr-lhe um fim!
- TU NÃO VAIS TOCAR NO MEU PAI! - Rosnou a pequena, em meio de soluços e mais algum choro, afastando ambos os braços do seu corpo e olhando furiosamente para a sua irmã mais nova. A sua postura transmitia confiança e decisão, tal como as suas lâminas de água.
Quando tentou mover-se, notou que todo o seu corpo estava hirto. Toda a fúria e tristeza que sentia pelas palavras proferidas... Ela queria descarregá-las na cara de Sasami. No entanto, algo a impedia. Genjutsu...
- Como eu disse, és uma criança, Kazue. Acredito que em outros tempos me tivesses derrotado com facilidade, mas o selamento debilita-te demasiado. Descansa, depois de tratar do Imagawa levo-te pessoalmente à nossa mãe. Será uma reunião emotiva.
A nuvem de flores que pairava em torno da Akatsuki projetaram-se na direção da criança presa pelo Genjutsu. As suas pétalas, tão afiadas como lâminas, retalharam, cortaram e rasgaram carne, ziguezagueando ao longo do corpo da pequena, como moscas enlouquecidas pelo cheiro a comida. Cascatas intermináveis de sangue desciam ao longo dos membros e flores, formando lagos à volta dos pés. O que lhe estavam a fazer era inumano e, mesmo assim, Sasami parecia estar a apreciar. Os urros de dor originados pelas suas próprias pétalas não pareciam incomodar-lhe minimamente. Até que eles colmataram no derradeiro gemido de agonia, seguido imediatamente por um silêncio. Aparentemente morta, Sekima tombou em cima das suas próprias poças de sangue, nada em si reconhecível devido aos inúmeros cortes e pedaços de carne rasgados.
Satisfeita por finalmente deitar abaixo a traidora, Sasami não conseguiu evitar sorrir. O Jintai Soujuu de Kazue ficou fraco após tantos anos, por isso ainda demoraria algum tempo a recuperar o corpo ao seu estado natural. A Akatsuki virou-se para o lado, preparada para assassinar imediatamente o Imagawa, surpreendendo-se por o ver de pé, a fitar inexpressivamente a sua filha.
Era tudo um sonho. Era a única explicação que lhe passava pela cabeça! Aquilo não estava a acontecer; Katsu estava a sonhar! Sekima não estava, neste momento, deitada sem vida nas suas próprias poças de sangue. Riu sem saber porquê. Aquilo não estava a acontecer!
Mas o olhar vazio do corpo sem vida da sua filha era a prova real...
Apertou firmemente os punhos das mãos. Sempre treinou para não deixar que as ações se regessem pelos sentimentos. Mas não conseguia controlar-se mais. Nunca sentira tanta raiva, tanta vontade de matar uma pessoa como naquele momento. A sua mente estava inexplicavelmente clara, ao contrário do que era de se esperar, e apenas vagas palavras ecoavam nela.
"Mata a Sasami."
- Distraí-me com a traidora e deixei o Imagawa escapar do Genjutsu... - Murmurou a ruiva para si mesma, ignorando a desolação que Katsu emanava à sua volta. - Não que isso mude algo.
As suas palavras não foram ouvidas. Uma atmosfera carregada de pura fúria estava instalada à volta dele. Como um animal a sentir a sua presa, ergueu a cabeça, Fuumetsu Mangekyo Sharingan ativo, fitando intensamente a assassina da sua amada filha. Sasami acobardou-se momentaneamente ao ver a expressão dele. Nunca o tinha visto assim e, lá no fundo, arrependia-se de o ter colocado naquele estado.
- Katon: Karyū Endan!
A Akatsuki foi apanhada de surpresa pela velocidade de selos do seu oponente, tendo apenas tempo de reagir ao veloz jato de chamas expelido na sua direção. Sabia que não seria capaz de escapar, unindo as mãos para transferir chakra ao solo à sua volta. Este ergueu-se, transportando a erva consigo para formar uma cúpula em torno da sua controladora, que esperava que fosse suficiente para aguentar o Ninjutsu adversário. No entanto, a defesa não aguentou a intensidade das chamas, derretendo ante o insuportável calor e deixando um pequeno resquício atingir Sasami no peito. O manto dela foi imediatamente consumido pelo jato, deixando a pele exposta que também não escapou ao fogo. Uma nova voz gritou de agonia naquela noite.
Num salto, o Imagawa olhou furiosamente para o chão abaixo de si. A sua presa estava com a movimentação limitada devido à cúpula de terra, por ela própria criada, e ferida pelo Katon. Não demoraria a morrer, tal como fizera com a...
- Katon: Hibashiri!
Em outra velocíssima sequência de selos, Katsu expeliu múltiplos círculos de fogo que, ao entrarem em contacto com a erva à volta do Doton de Sasami, criaram uma pequena muralha de chamas que impediam a presa de sair do seu interior. A mulher ainda não se recuperara da queimadura anterior, mas isso não fazia o Imagawa parar.
- Fuuton: Kamikaze!
Em mais gasto de chakra, tornados de vento foram criados que depressa se alimentaram das chamas do local. Uma muralha e tornados de chamas queimavam o corpo de Sasami de diversas maneiras e os seus gritos de dor apenas cresciam à medida que era mais atacada. E para sua infelicidade, Katsu preparava mais selos...