A elite de Gaina, parte 3

A multidão de pessoas sobressaltou-se aquando a parição dos tornados de fogo, afastando-se o máximo que podia do perigo. Todavia, as mais assustadas correram para longe em pavor, gritando como se fosse o fim do mundo.
Entretanto, Katsu parecia imune a tudo o que se passava à sua volta que não era o corpo inanimado de Sekima a uns metros de si ou Sasami que ainda estava coberta por todas as chamas por ele criadas. E mais selos foram feitos com uma habilidade inigualável.
- Doton: Doro Hōshi!
O campo de batalha foi invadido por um denso rio de lama que se criou em frente ao Imagawa, direcionando-se para o meio dos tornados e da muralha de fogo que de tão intensos impediam de descobrir onde estava Sasami. Os gritos de agonia prosseguiram e eram assustadores para as pessoas que não estavam habituadas a ouvi-los, como os aldeões. Katsu apenas se deliciava.
Quando as chamas se acalmaram, por fim a Akatsuki ruiva surgiu; o seu corpo irreconhecível devido às diversas queimaduras que o deformaram e estragaram a pele e carne. Estava tão ferida, mortalmente até, que era quase impossível ouvi-la respirar, pois tal ato estava a ser-lhe extremamente custoso. O Imagawa sabia que ela não viveria muito mais. O ar à volta ainda dançava com algumas brasas e pedaços do manto de Sasami que conseguiram escapar à total carbonização, espalhando cinzas pelo local para além das já originadas pelas explosões do hotel. A ruiva encontrava-se submersa até à cinta pela lama criada pelo Doton do seu inimigo que, quando entrou em contacto com as chamas, depressa solidificou até tornar-se tão rija como cimento. Mesmo que não morresse, seria-lhe impossível escapar dali. Uma vitória completa para Katsu.
Os dois fitaram-se, ambos conscientes que não faltava muito tempo para que ela deixasse de respirar. As mãos do elementalista ainda estavam próximas uma da outra, preparadas para mais selos caso fosse necessário assegurar a morte de Sasami. Por sua vez, a ruiva não conseguia mexer-se. Não obstante, conseguia ter energia para olhar com um intensidade surpreendente para o seu assassino, como se o amaldiçoasse antes de finalmente perecer em paz. E assim aconteceu. Fechou os olhos e, num último suspiro de despedida ao mundo, o corpo cedeu e o tronco tombou sobre a lama seca que a prendia. Tudo o que era vida nela não existia mais.
Katsu não ficou satisfeito. Normalmente ficaria aliviado por ter derrotado facilmente o seu adversário, mas naquele caso era diferente. Queria ter provocado muita mais dor na sua inimiga, fazê-la sofrer de uma maneira tão excruciante que nem mesmo uma vida após morte seria capaz de compensar toda a tormenta que ele lhe queria infligir.
Suspirou e tentou relaxar.
Era inútil continuar a desejar vingar-se em alguém que está morto. Pelo menos, ao derrotá-la, conseguiu ganhar mais confiança por ter enfraquecido um pouco o exército de Gaina. O que mais lhe preocupava era a sua pequena...
Quando se virou e procurou o corpo da sua filha com o seu enorme desejo de a ajudar, um grito extremamente agonizante ensurdecedeu-o. Tapou os ouvidos por reflexo para os proteger de tamanho som agudo, algo que nunca ouvira antes. Quando olhou para a fonte que gritava com uma intensidade inumana, assustou-se quando notou que vinha do corpo, ainda morto, de Sasami. E então não quis acreditar no que viu.
As costas da ruiva arquearam violentamente para todas as direções, mostrando que algo por debaixo da sua pele e carne se queria libertar. Quando elas se abriram, e deixaram escapar torrentes de sangue e alguns pedaços de carne soltos, cabelos loiros esvoaçaram, proclamando a sua liberdade. Uma cabeça então surgiu e dois olhos castanhos piscaram incontáveis vezes para se ambientarem ao que era novo para eles. De seguida, dois braços foram expelidos, acompanhados por sons nojentos como o partir de ossos e o rasgar de carne, cujas mãos depressa se apoiaram na superfície da lama enrijecida. Fizeram então força e mais sons violentos fizeram-se ouvir. Aos poucos, o resto do corpo foi surgindo pelas costas de Sasami, como uma borboleta a sair do casulo, espirrando intermináveis rios de sangue e expelindo pedaços de carne. No final, permanecia mulher loira e de olhos castanhos, exatamente como veio ao mundo, ao lado do corpo estragado e sem reparo de Sasami. Apesar de certas diferenças, não era difícil reconhecê-la: Gaina.
Katsu não reagiu, demasiado furioso para se deixar espantar, não retirando os olhos de uma nova inimiga. No entanto, esta Gaina não parecia a verdadeira, principalmente no cabelo, apenas loiro e não multicolorido, e as mãos normais, ao contrário de verdes. A nova Moremane rodou a cabeça e esticou os membros, estalando cada osso do seu corpo.
- Sinto-me tão fraca... Onde estou? - Perguntou a si mesma, olhando ao seu redor desnorteada. A multidão murmurava comentários sobre o facto daquela mulher ter saído das costas de outra e de não se incomodar de estar ali nua. Quando a atenção de Gaina foi captado pelos sussurros e ela olhou inocentemente para as pessoas, todos se calaram com receio. - Já me lembro de tudo... - Olhou para Katsu e depressa desviou para o corpo deformado de Sasami pelo qual acabara de sair - Tenho de salvar a minha criação.
- Já percebi. Ela é exatamente igual à outra Gaina que saiu por detrás do meu pescoço. Parece que a verdadeira Gaina implantou uma parte de si em todos os subordinados com diversos objetivos: no meu caso para me espiar e no de Sasami para a ressuscitar, caso morresse. No entanto, é claro que esta é só uma versão rasca da verdadeira. Tenho de matá-la antes que faça alguma coisa! - Concluiu o Imagawa, completando rapidamente uns selos - Suiton: Mizu Kamikiri!
Um feixe de água surgiu à frente de Gaina, evitando propositadamente o corpo de Sasami pois um Imagawa não profana os mortos, tentando dilacerá-la antes que pudesse tomar qualquer ação. Ante o iminente perigo, a cópia apenas esticou o braço em frente e deixou que uma pequena esfera de eletricidade se formasse. Quando o Raiton e Suiton se encontraram, explodiram intensamente, soltando faíscas que ainda tiveram impulsão para eletrocutarem Katsu. Quando ele se recuperou do choque e olhou em frente, Gaina estava intacta, ajoelhada e virada para a sua filha enquanto realizava alguns selos. De esguelha, notou que o Imagawa ainda estava de pé.
- Deve ter sido ele quem matou a Sasami. Parece habilidoso, mas não passa de um humano. - Falou com a superioridade habitual da sua verdadeira versão. Katsu estranhou não estar a ser reconhecido, mas concluiu que na altura da criação desta cópia ele se calhar nem era nascido. Sobressaltou-se quando reparou que, do braço esquerdo de Gaina, surgiram outros dois braços cujas mãos se viraram para ele - Mokuton – Daijurin no Jutsu. - Os braços extra fizeram uns selos, transformando-se seguidamente em dois largos troncos de madeira que estreitaram as suas pontas até ficarem tão afiadas como lâminas, projetando-se contra o Imagawa. Enquanto ele se via obrigado a esquivar dos ataques com toda a agilidade que tinha, Gaina devolveu a sua atenção a Sasami - Para ele te ter derrotado, será assim tão forte? - Perguntou-se, não parecendo prestar atenção aos dois troncos que tentavam trespassar Katsu, dando a entender que eles se moviam por vontade própria. - Não te preocupes. A tua Deusa estará sempre aqui. Kaibougaku Tousui no Jutsu!
Por entre as diversas investidas dos troncos, o elementalista notou que as feridas mortais (tanto das queimaduras por ele provocadas como da saída da cópia de Gaina que deformaram as costas todas) se regeneravam com uma habilidade curativa que ele nunca vira antes. Ainda podia impedir que Sasami recuperasse totalmente o corpo, e consequentemente a vida, mas não o conseguiria fazer enquanto os troncos continuassem a atrapalhá-lo. Poderia tentar afastar-se e testar o quão longe eles conseguiam esticar-se, mas caso fizesse isso não seria capaz de impedir a regeneração. E aproximar-se com tanta atrapalhação de madeira provava-se demasiado complicado. Teria de improvisar!
- Fuuton: Shinkū Renpa! - Gritou após os selos e rápida concentração de chakra, expelindo suficientes lâminas de vento para desfazerem completamente os troncos e ainda serem numerosas para não darem chance a Gaina de as esquivar.
Mas, mesmo sendo apenas uma porção do poder de Gaina, a cópia estava a ser subestimada.
- Hyouton: Thaksie Hyoushou. - Pronunciou a Moremane, ainda ocupada a curar a sua filha, criando dois novos braços extras que formaram outros selos, soltando uma descarga de chakra que congelou imediatamente as lâminas de vento.
Katsu ficou imóvel, incrédulo ao ver as duas lâminas congeladas a tombarem no chão e a quebrarem-se em pequenos pedaços de gelo como se todo este tempo não passassem de ataques tão frágeis como o próprio vidro. Uma das suas melhores técnicas de Fuuton neutralizada com tanta facilidade!
- Kumosōkai. - A voz da loira fez-se ouvir novamente e, desta vez, formou-se uma boca no pescoço que cuspiu uma enorme teia de aranha virada a Katsu. O Ninjutsu foi demasiado rápido para ele conseguir reagir, sendo atingido pela pasta pegajosa que se esticou e o prendeu completamente ao solo, como uma verdadeira mosca. Ele ainda tentou estrebuchar e livrar-se com pura força física, mas era inútil - Com ele preso já posso acabar de tratar de ti, minha criação.
As últimas costelas e pedaços de carne foram criados para substituir os anteriores em estalidos secos e outros sons repugnantes. O Akatsuki queria usar o seu Kamui para se tornar intangível e assim retirar-se da teia que tão afincadamente restringia os seus movimentos, mas algo naquela pasta suprimia o seu chakra. Parou de resistir quando ouviu um fraco gemer. E a seguir, mais alguém respirava naquele local.
- Sentes-te bem, Sasami? - Perguntou Gaina com bastante ternura na sua voz. O Imagawa esticou a cabeça em frente e viu que a Moremane tinha Sasami em seus braços, murmurando algumas palavras encorajadoras ao seu ouvido. Ele não pensou que viria Sasami a respirar e falar novamente...
Continuou a tentar livrar-se da teia, fosse de que forma fosse, mas nada parecia surtir efeito. Enquanto isso, Sasami já estava de pé, quase recuperada de todos os ferimentos que foram causados ao seu corpo, tão frágil como o de qualquer outro humano.
- Tu és... O que a mãe selou em mim? - Perguntou a ressuscitada, a sua voz ainda um pouco fraca mas ganhando aos poucos convicção.
Não houve qualquer resposta. O corpo de Gaina começou a desfazer-se lentamente, decompondo-se aos poucos. Sasami pareceu incomodada com o que estava a ver, mas não esboçou qualquer reação. Sabia que aquela cópia servia unicamente para a ressuscitar, caso necessário, e que uma vez houvesse cumprido tal propósito, desapareceria sem deixar rasto. E o que restava agora dela era uma mistela de carne decomposta que serviria, mais tarde, como alimento para um qualquer animal que tivesse a sorte de a encontrar.
A ruiva cerrou o seu punho fortemente.
Desviou o olhar para o Imagawa, que ainda estava preso na teia de aranha. Sentiu algo que nunca sentira antes. Uma sensação que lhe era estranha e tão... humana! Uma vontade incontrolável de o matar!
- Nem acredito que o maldito Imagawa conseguiu forçar-nos a esta situação, mãe. - Falou a Akatsuki para ninguém em especial, afrouxando o aperto na mão e suspirando para acalmar toda a raiva que ia dentro de si - Não me vou controlar mais!
Katsu apenas se riu.
Estava estranhamente satisfeito por lhe ter sido concedida uma nova oportunidade de vingar-se de Sasami. E jurou para si mesmo que ia aproveitá-la ao máximo. A teia podia suprimir-lhe o chakra, mas havia algo que era impossível de ser impedido. Sentia-se estranho por ter de recorrer a tal habilidade, mas decidiu que também não se ia controlar mais.
Sasami voltou a suspirar, desapontada por ainda não ter recuperado total controlo do corpo. Sabia que só faltavam alguns segundos, portanto apenas lhe restava esperar. Já não tinha mais o manto da Akatsuki, que ardera quase completamente, mostrando as roupas que tinha debaixo dele: uma camisola vermelha, sobreposta por um colete de couro cinzento, e umas calças grossas negras. Deixou que algumas pétalas de flor surgissem por entre o colete e a sua camisola que foram manipuladas cuidadosamente até pairarem à volta da sua controladora, esperando novas ordens pacientemente.
Por sua vez, Katsu deixou que chakra Santon emanasse pelo seu corpo. Este chakra corroía rapidamente as teias e o chakra de Gaina que as constituía e que não conseguiam suprimir o ácido. Não demorou muito para que o elementalista já estivesse de pé, livre de qualquer teia, e com as duas mãos rodeadas de Santon.
Os dois fitaram-se mais uma vez, conscientes que esta seria a última. Não haveria mais conversa nem mais interrupções.
Só um iria morrer.