O sol mal se via por entre as nuvens e cumes de Kumogakure já Kazuki e Mateki, seu pai, estavam no campo de treino. Entre eles havia uma placa de madeira circular que girava no centro, devia ter perto de metro e meio de raio. Uma espécie de carrossel, sem os brinquedos.
- Algo me diz que isto não é daquelas rodas onde se serve comida e basta rodar para vir mais. – Comentou o jovem secamente. “O que é que este velhote andou a tramar?” pensou aborrecido.
- Isto é para mais tarde. Tudo a seu tempo. – Disse soltando uma risada sarcástica no final. – Já sabes o que tens a fazer.
Ao ouvir aquilo, o Gennin começou o aquecimento com uma corrida controlada, concentrando-se na sua respiração e passada ritmada, enquanto amontoava cada vez mais metros atrás de si. Parou quando começou a sentir-se pesado e a sua passada a sair do ritmo cada vez mais regularmente. Descansou para repor o ar nos pulmões e, de seguida, iniciou uma série de flexões. Não se excedeu demasiado, pois queria estar em condições para o treino que se avizinhava. Assim, quando os braços começaram a exigir mais força do que aquela que ele estava disposto a fornecer, parou. Levantou-se e sentiu algumas gotas de suor na testa, ao mesmo tempo que nas costas a camisola se colava ao corpo também devido à transpiração. Sacudindo-se foi ter com o pai que o esperava.
Este havia montado três estacas, cada uma decorada com palha presa por um pano, onde havia um X desenhado. Em frente dos alvos havia 7 cones, 6 deles dispostos em ziguezague e o último alinhado com o alvo do meio.
- Vamos treinar essa pontaria e agilidade, meu rapaz! – Disse o Jounin retirado.
Kazuki percorreu rapidamente o espaço até ao primeiro cone, travando abruptamente, enquanto cravava os pés no solo. Cortou agilmente na direção do cone seguinte, exercendo força na perna contrária ao movimento e, de seguida, acelerou desenfreadamente. Fez o mesmo para os restantes pontos e ao chegar ao último retirou três shurikens do bolso. Mal havia chegado à posição destinada, arremessou as estrelas mortais com um só movimento de braço. Acertaram todas nas estacas, mas nenhuma se aproximou do X.
Voltou ao início e executou mais uma vez o exercício, mas com pouco mais sucesso do que na tentativa anterior. Mateki sentiu-se compelido a demonstrar como se fazia corretamente e apontou: – Estás a querer fazer tudo muito rápido. O principal agora é a técnica, a rapidez vem com a prática.
Ele sabia que conseguia fazer melhor que aqueles resultados medíocres, por isso encaminhou-se para o primeiro cone com renovada confiança. Primou na execução da travagem, do corte de direção e da aceleração repentina, fazendo estes movimentos mais devagar, mas mais precisos, ou seja, com menos passos, pois quantos mais desse, mais tempo perderia. No último cone assentou bem os pés na terra e atirou as shurikens de uma só vez. Duas delas acertaram exatamente no centro do X, só a da direita saiu um pouco desviada. “Ok, está melhor.”
Repetiu o ciclo mais uma vez, mas com maior velocidade. Reparava que já estava a ficar cansado, aqueles movimentos exigiam uma grande concentração e agilidade devido às rápidas trocas de velocidade. O resultado no final foi parecido com o anterior, o que o deixou satisfeito pela evolução. Estava a arfar e teve de apoiar as mãos nos joelhos. O exercício era mais puxado do que parecia.
Mateki mandou-o executar uma última vez o circuito para seu desagrado. Esfriando a cabeça avançou para os cones e mais lentamente percorreu os pontos todos. No final, apontou aos alvos e os resultados não foram maus, “3 em 3”. Sentou-se devido ao cansaço. Atrás dele via-se a relva marcada nos locais por onde passara sucessivamente, principalmente perto dos cones.
- Agora é começar a ser mais rápido nisso. – Afirmou Mateki. Deu meia-volta e dirigiu-se à placa de madeira circular enquanto dizia. - Vamos ali para a “roleta”. Neste exercício quero que corras à volta do círculo enquanto te desvias das shurikens que eu e o meu clone te vamos atirar. – “Boa, não chegava um…”
Subiu para a placa de madeira instável e começou a correr dando lentamente velocidade à roleta. A madeira tinha algumas falhas e por isso desequilibrava-se se pusesse os pés no sítio errado, mas ao fim de algumas voltas já se tinha familiarizado com o engenho. Olhou para o pai enquanto este criava um clone igual a ele e o posicionava do outro lado da roda.
Ao princípio, os projeteis vinham direcionados à sua cabeça e braços, mas ao verem que o rapaz se desviava facilmente baixando-se, ou desviando os membros para o lado, as shurikens começaram a ser apontadas ao corpo e às pernas. Estas medidas obrigaram Kazuki a recorrer aos extremos da sua agilidade, flexibilidade e equilíbrio. Por vezes rodava o corpo e via a shuriken a passar paralela ao peito, enquanto mantinha as pernas a correr de lado. Por vezes era obrigado a saltar para o lado, e numa dessas situações quase foi disparado do disco fora, mas conseguiu equilibrar-se a tempo.
Era um exercício extremamente cansativo. Exigia uma grande capacidade de perceção e sincronização do corpo com os olhos, ao mesmo tempo que executava ágeis técnicas para se desviar dos projeteis e tentava manter o equilíbrio. Continuou por mais alguns minutos, que mais pareceram horas, nos quais sofreu vários golpes superficiais nos braços, barriga e pernas todos ardendo cada vez mais. Atendendo às súplicas mentais do Gennin, o outro disse:
- Parou! Descansa, estiveste bem! – Kazuki abrandou lentamente a velocidade, era difícil parar aquilo. Saltou do círculo e rebolou pelo chão para amortecer a queda. Aquele exercício deixara-o de rastos, tinha as pernas a tremer, o coração não parava de bater freneticamente e a cabeça de andar à roda, já para não falar dos inúmeros pequenos golpes. O seu pai ligou-o nos locais onde se cortara e depois deitou-se na relva enquanto arfava e fechava os olhos.
Levemente recuperado levantou-se, passados uns minutos apreciados de bom grado pelo jovem.
- Vamos lá! Uma luta de homem para homem, mano a mano. Eu sei que ainda consegues rapazolas. – Incentivou Mateki. Kazuki estava relutante em lutar, tanto devido aos ferimentos como ao cansaço, mas preparou-se. Não queria dar ao seu pai motivos para este gozar com ele.
Assumiu uma postura defensiva, pernas fletidas prontas para qualquer movimento, braços à frente do corpo, de punhos meio cerrados e olhos bem atentos no oponente. O Jounnin, que estava fresco, dirigiu-se ao Gennin selvaticamente, de braço direito retraído. Sabia que o pai tinha mais força, por isso bloquear um ataque não seria opção. Esperou até ao último instante e fazendo força na perna contrária cortou para a esquerda, o lado indefeso do adversário. Carregou o punho esquerdo e desferiu o golpe ao mesmo tempo que se virava, mas este embateu na outra mão de Mitake, que fora rápido a passa-la por debaixo do outro braço. Este aproveitou o braço ainda estendido para acertar com o cotovelo na cara do filho. O jovem ainda foi a tempo de o bloquear com a mão livre, mas a força do golpe era tal, que levou a própria mão aos dentes e foi projetado para trás. Caiu de costas, organizou as ideias rapidamente, e instintivamente apoiou as mãos no chão acima dos ombros e rolou para trás escapando a um pontapé vindo de cima. Levantou-se automaticamente, e ainda bem, pois foi a tempo de se desviar de mais um golpe, rodando o corpo e apoiando o pé esquerdo atrás, à medida que via o braço do oponente a passar rente ao seu peito. O primeiro instinto foi segurar-lhe o braço estendido e ataca-lo por baixo com o outro. O Jounnin desprendeu-se e agarrou a camisola de Kazuki, ao mesmo tempo que o último lhe acertava no queixo empurrando-o para trás. O rapaz desequilibrou-se e ficou à mercê do adversário. Este obrigou-o a dobrar-se enquanto enrolava um braço a volta do pescoço do filho e usava o outro para apertar mais. O Gennin caiu e o adulto ajoelhou-se em cima dele segurando-o:
- Foi uma luta breve, mas fiquei surpreendido. Amanhã há mais! – E com isto largou-o deixando o rapaz estendido na relva.
Assunto: Treino 2 
Seg 15 Fev 2016 - 23:58
