O parque estava vazio e a escuridão se aproximava anunciando o final da tarde. Fitando a fina camada de poeira que tomava toda a superfície da gangorra à sua frente, Kimura pensava distraidamente sobre sua vida após os eventos que culminaram com o seu ritual de passagem forçado. Estava triste. Tentava evitar que as lágrimas inundassem seus olhos, num esforço vão. E logo as pequenas gotículas caíam na areia, além de um forte soluço, deixavam claro que chorava, mesmo sem querer. Sob a sombra de uma grande amendoeira, onde centenas de folhas avermelhadas caíam a cada movimento do vento, Kimura estava sentado em um dos três balanços de madeira.
Era o mesmo lugar onde, pela primeira vez, encontrou Katsume e terminava por se apaixonar após o rápido e tímido beijo. -
E agora? - Soluçava, falando sozinho. -
Não posso correr o risco de matá-la. - Completou. Mas não demorou muito até que sua tristeza se transformava em raiva. Raiva por fazer parte de seu clã. Raiva por não ter conseguido fugir. Raiva. Raiva. Até que o garoto se levantou abruptamente, chutando um pequeno balde de brinquedo que alguma criança havia esquecido. O balde voou até o muro que dividia o parque da rua e estalou, quebrando-se em pedaços. Acompanhando o objeto com um olhar frio, estremeceu ao olhar para a entrada do parque e a viu. Katsume.
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Por favor, não me toque. - Fraquejou o garoto, recuando.
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Não. Não quero ficar longe. - Respondeu Katsume carinhosamente.
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Mas você pode morrer... - Respondeu tentando enxugar as lágrimas.
Katsume caminhava a seu encontro com lentas passadas. Ela hesitava, afinal, a experiência traumática que ambos experimentaram não havia sido fácil. Ela apenas se lembrava em estar feliz por ter conseguido escapar, até que uma senbou interrompeu seu passo, fazendo-a cair inconsciente. Logo depois, acabou acordando em sua cama, como se tudo não passasse de um pesadelo bastante real. Desde então, dois dias haviam se passado, sem nenhum sinal de seu namorado. Ela havia tentado entrar em contato inúmeras vezes, mas a mãe nunca a deixava. Sempre dava alguma desculpa sobre Kimura. Ela não era boba. Sabia que tudo aquilo era algum artífice para impedi-la de encontrá-lo.
Por isso, todas as tardes, exatamente no mesmo horário de seu primeiro encontro, visitava o parque tentando achar seu amor. E agora, ele estava na sua frente. Chorando. Kimura recuava apavorado. -
Por favor. - Dizia. Mas parecia que o risco não impedia a garota de encurrala-lo na parede, onde o abraçou com toda força. Kimura, antes furioso, se entregou ao abraço apertado com toda sua alma e coração. Logo, a garota afastou o rosto bruscamente, ponde a mão esquerda na boca de Kimura, logo beijando as costas da mão, demostrando que apesar de tudo, ainda o amaria. Olhos nos olhos, abraços fortes. Os dois ficaram parados por mais alguns momentos, quando ela o puxou em direção aos balanços.
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Bom, andei estudando.. snif... - Falou a garota, enxugando as lágrimas.
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Sobre o quê? Meu clã? - Sorriu Kimura.
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Sim. Não ser envenenada será um desafio. - Brincou a garota.
Essas palavras fizeram com que Kimura ficasse ainda mais admirado com a perseverança e força de sua namorada. Agora, qualquer dúvida que tinha sobre o sentimento dela havia desaparecido, pois a vontade de continuar era o mesmo que flertar com a morte. Mas ela se mostrou disposta a enfrentar as consequências. E por isso, Kimura teve certeza de que Katsume seria sua alma-gêmea. -
Você é incrível, sabia? - Sussurrou. A garota respondeu silenciosamente ao se aconchegar em seus braços, quando o vento mais uma vez soprou fazendo mais folhas caírem, levando-as junto com uma fina camada de areia. As luzes do parque se acenderam e o sol já havia desaparecido. Seria hora de retornar.
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Tenho que ir agora. Minha mãe vai ficar uma fera se perceber que me ausentei. - Disse Katsume ao se levantar. O genin se levantou para acompanhá-la até os limites do parque. E assim, com um beijo carinhoso na mão, Kimura se despediu da garota de sua vida. Os dois trocaram os últimos olhares do dia e com um leve sorriso, a garota correu e dobrou a esquina, perdendo-se de vista. Kimura suspirou profundamente e se virou para caminhar até sua casa. Entretanto, um pressentimento incômodo o fez virar para o parque com velocidade, como se quisesse surpreender algum observador. Mas o parque permanecia vazio. Não havia ninguém. -
Pff... Devo estar enlouquecendo. - Convenceu-se assim que recomeçou a caminhada.
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Do alto do telhado de uma pequena residência. Pouco ao norte da entrada, onde se podia ver todo o parque. Uma sombra se esgueirava até conseguir um bom lugar para observar os dois enamorados enquanto conversavam. Não se podia ver muita coisa da silhueta escondida sob uma pesada capa de chuva. Apenas uma máscara ANBU surgia, donde pupilas verticais amareladas revelavam sua identidade: Um membro do Clã Hebi. -
Então meu querido Kimura, ela não o deixou? - Sussurrou Saiako, surpresa, com a voz abafada pela máscara branca com detalhes em azul. -
Muito bem. Acho que terei um aliado para meus interesses. - Disse, enquanto os via se despedirem amavelmente e logo correndo em direções opostas. Relaxando em sua posição, Saiako quase foi surpreendida quando Kimura se virou rapidamente para onde estava, mas, por sorte, conseguiu esconder-se em tempo.
CONTINUA...