Mais um ensolarado domingo em Konoha, mas não um dia comum. Aos pés de grande paredão onde os dois rostos esculpidos observavam inertes seus habitantes que fervilhavam as ruas em grande comemoração e alegria. O festival que comemorava a criação de Konoha começara e com ele, algumas atrações dividiam a atenção dos inúmeros expectadores. Espalhados pelo grande terreno fornecido, um grande teatro de marionetes deixavam as crianças vidradas ao ver a história da fundação da vila, interpretadas por vários bonecos que mal lembravam as figuras principais das histórias, entretanto, suas sombras no papel de seda incendiavam a imaginação das jovens que vibravam com o suntuoso final, quando a união formada entre os dois mais poderosos clãs dera origem a grande Vila. Logo ao lado, os adultos testemunhavam e torciam, num ruído alto e aflito, a cada manobra arriscada de um dos oito trapezistas que ao mesmo tempo voavam de um lado a outro, sob a tenda pintada em verde e branco. Enquanto isso, dois jovens caminhavam pelo parque-de-diversão que fora instalado ao lado do circo. O parque não era muito rico, nem interessante. Mas sua simplicidade tinha um romantismo cativante, que atraía os jovens enamorados para passearem entre as atrações que eram propositalmente difíceis de conseguir para não terem tanto prejuízo, já que era frequentemente visitada por ninjas.
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Espere, tenho algo a fazer.- Dizia o jovem pálido, ao correr rapidamente em direção a barraca de dardos. A jovem morena o acompanhou com seus olhos azuis e se aproximou vagarosamente até que o encontrou já com alguns dardos nas mãos. Acenando com um singelo sorriso, a linda jovem autorizou que o rapaz começasse a arremessá-los. Foram três dardos ao todo, passando entre vários obstáculos postos para dificultar o acerto, Himura atingiu o alvo em cheio e o gongo tocou. Logo, o dono da barraca se aproximou à contragosto, esticando os braços com um grande urso de pelúcia, o qual Himura rapidamente o endereçou a jovem que sorria envergonhada. -
Obrigada. - Sussurrou em seu ouvido carinhosamente. Suas mãos se tocaram e seus lábios se aproximaram, até que Himura a interrompeu com tristeza. -
Ainda não. - Falou para a garota, com alguns soluços na voz. Sirene nada falou, apenas tocou-o a mão e o levou para a roda-gigante. As pessoas ainda não entendiam como uma garota tão bela pudesse se apaixonar por um pálido e misterioso membro do Clã Hebi. Todos sabiam que eles nunca poderiam se tocar, ou ter filhos. Entretanto, o destino incerto parecia não incomodar os namorados que sorriam ao avistar toda a vila numa alegria infantil. Himura sabia que logo cumpriria seu dever. Logo estaria em seus braços como sempre quis. Mal sabia ele que este dia chegaria em poucas semanas dali.
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Vocês gostaria que lhe tirassem uma foto? - Perguntava o fotógrafo ao vê-los saindo do brinquedo.
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Claro. Será nossa primeira foto depois do noivado. - Respondeu Himura para a surpresa de Sirene, quando viu a aliança.
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Alguns ecos na floresta se pronunciavam. Nem mesmo o grande ruído da queda d’água impedia que gemidos de dor e palavras sem sentido alcançassem os ouvidos de quem passasse ao longe, na remota trilha. Um choro rancoroso de frustração corroía toda a paz o local originalmente trazia. Subindo a estrada escavada na montanha, passando por alguns vales, chegava-se a caudalosa cachoeira Hokairo. Sua força trazia uma fina névoa em toda a ponte que a cruzava, tendo o mesmo nome. Os poucos raios de sol que atravessavam as pesadas nuvens no céu, criando pequenos arco-íris que embelezariam o local se a ponte não estivesse em ruinas, balançando perigosamente enquanto algumas de suas sessões caíam numa grande altura até a base da cacheira, onde rochas de granito branco trucidavam qualquer coisa que ali se precipitasse. Sua madeira de lei, antes bem cuidada e envernizada, trazia marcas de que fora golpeada diversas vezes com uma força tremenda. À sua beirada, duas pessoas lutavam até que uma delas escorrega. Um erro até então fatal se o homem não a segurasse pelo pulso. Entretanto, o que seria uma ação lógica não surgiu. O homem sisudo ainda a brandia perigosamente pelo pulso, enquanto a mulher se debatia. Seu choro reprimido lhe doía às entranhas. Havia falhado. Agora, Saiako estava nas mãos de seu pai. Um homem que há pouco o considerava como ameaça.
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Seu idiota! O que você fez com Kimura não há perdão! - Gritou Saiako, debatendo-se.
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Acha que sou inocente o suficiente para achar que você estava preocupada com ele?! - Retrucou Himura.
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Agora vai se livrar de mim como se livrou de nosso avô? - Irritou-se ainda mais.
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Sua tentativa falha de reviver esta história já terminou. - Sussurrou Himura, soltando o pulso de sua filha.
Saiako rodopiou no ar e caiu ainda com o seu olhar de fúria, perdendo-se na espuma da cacheira, onde o sangue esverdeado espirrou e tingiu a água até sumir totalmente. Himura observava a queda d’água, ainda procurando algum sinal de que sua filha estava viva e pudesse atrapalhar seus joguetes. Então, após alguns momentos de reflexão ele sussurrou: -
Agora, o plano de unificação continua. - Falou sozinho enquanto saltava até a margem quando a ponte ruiu, caindo no precipício.
CONTINUA...