A aparição de uma Deusa!

Já não sentia há muito tempo tanta raiva acumulada. Fizera tanta missões com aquele homem e nunca antes ele fizera algo parecido. Fugir a meio da tarefa? Por muito que pudesse não gostar de Arami, Katsu sabia que ele não deixaria uma tarefa por fazer sem uma boa causa. Então, o que teria acontecido? Era demasiado forte para ser derrotado pelos batalhões de Suna, mesmo que estes fossem superiores em número. Se calhar tinha ficado gravemente ferido e batia em retirada... Não, também não era a forma dele agir. Se ficasse ferido lutaria até ao fim, desde que com isso derrotasse o seu oponente.
- Porra, Arami! Onde diabos estás tu! – Resmungava o Imagawa, encontrando apenas grãos de areia a dançar com o vento e extensas dunas. Para piorar a situação, o Sol arrasador apenas o desconfortava, levando-o a suar ainda mais do que era normal. Se continuasse assim, acabaria desidratado, um estado muito grave para um utilizador do Suika no Jutsu – Não posso continuar assim...
As manchas verdes e douradas por entre a água do seu turbilhão aumentavam gradualmente e eram agora mais visíveis, mas o Akatsuki ainda estava demasiado distraído para reparar nelas. Continuou a sua procura incessantemente, turbilhão de água constante a contrastar com o suor na sua cara que não parava de pingar. A sua garganta estava tão seca que o impedia de falar, a raiva tão quente na sua cabeça que só o fazia querer gritar, o turbilhão de água constante a ficar esverdeado. Aumentou de altitude, pensando que veria melhor se estivesse mais alto, e aí chegou ao momento crítico. Reparou finalmente que algo de errado se passava com a sua própria água, olhando para o turbilhão e notando que todo ele estava verde. Percebeu então que até aos joelhos já não sentia nada. Sem entender realmente o que se passava, sentiu que aquela água não o transportava apenas, consumia-o enquanto o fazia! Não sentia as pernas, mas estas doíam-lhe intensamente, como se estivessem a ser lentamente devoradas. Pela primeira vez, Katsu sentiu o seu Futton...
Confuso, perplexo, perdeu o controlo do seu próprio chakra, mas o turbilhão não se desfez, perdendo ao invés altitude e propulsão. O corpo do Akatsuki tombou sobre a areia violentamente, deixando que a água das suas pernas envolvesse o resto do corpo na sua camada gelatinosa e verde. Se o Imagawa não fosse a presa, sentir-se-ia feliz por ver o seu próprio ácido a agir como uma criatura viva, capturando e devorando a sua própria comida. Sentia que essa criatura viva degustava cada pedaço de carne e de osso das suas pernas. Sentia que ela o abraçava intensamente num aperto pegajoso e fisicamente impossível de se livrar. As dores eram tantas e tão intensas que ele não tinha mais nada a fazer a não ser render-se...

Não aguentando mais as dores, a sua visão ficou turva. Tinha tanto que fazer, ia morrer tão novo e com tanto para fazer. Tinha de falar com Kimera, confessar-lhe mais uma vez os seus sentimentos, lutar por quem amava. Tinha de tomar controlo sobre o seu clã, surgir como o novo líder que os guiaria para um mundo onde este poderiam viver sem guerras, traições e massacres. Tinha de continuar a lutar pelos ideiais da Akatsuki e pelos seus, cumprir as suas ambições. Tinha tanto para ensinar a Sekima, para contar a Takumi, para gozar e rir com Arami... Os seus olhos teimavam e fechar, mas a sua vontade mantinha-os sempre abertos, como se fosse a última vez que veria aquele deserto, aquelas dunas, aquela areia irritante que nunca parava de bailar. Pelo menos queria saber do que iria morrer, o que realmente lhe devorava o seu corpo. Que corpo? Já não sentia nada... A sua visão voltou a dissipar-se, desta vez com mais força, ou Katsu é que estava mais fraco?, e fechou-se antes de ver um curto raio branco...

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Num movimento ágil, a Kamitsuchi barafustou na direção da goela de Roumi, que a evitou num mortal a retaguarda. A criatura negra, irritada por ser ignorada na contenda entre os humanos, rosnou ameaçadoramente e tentou rasgar Arami em dois. Todavia, irritado e com adrenalina a transbordar-lhe pelo corpo, o Akatsuki bloqueou o feroz ataque com uma súbita parede de terra. Enquanto esta era destruída em pequenas rochas, a sua espada voltou a atacar, quase atingindo a cabeça do monstro se este também não se tivesse afastado com um salto.
- O maldito Akatsuki ainda está vivo... – Murmurou a Kumonin com raiva, invocando nas palmas das mãos algumas adagas bem afiadas, envolvendo-as prontamente com eletricidade – Akatsuki! Aquela criatura não tem nada haver com a tua missão deturpada e criminosa! É uma criatura que merece respeito de seres inferiores como tu! Afasta-te!
Os olhares dos humanos voltaram a encontrar-se, assassinos, frios e impiedosos. Cada momento que passavam juntos aprendiam a odiar-se mais: ela por ódio aos homens em geral, ele pela falta de respeito que a oponente tinha de si. As mãos dos dois crisparam-se ferozmente nas suas armas, estas sedentas pelo sangue do adversário. A criatura, por sua vez, apenas observava o ódio dos seus oponentes que, apesar de serem da mesma raça, lutavam entre si.
- Humanos... Tolos! – A sua voz esganiçada e sombria conseguiu atrair uma réstia da atenção dos dois ninjas – São da... mesma raça! No entanto... lutam... entre si! Não merecem... as dádivas... que os Deuses... vos deram!
Num grito louco e indignado, o monstro fez finalmente uso da sua peculiar besta. Atirou dois projéteis de pura essência negra com a forma de flechas, uma para cada humano. Ao mesmo tempo, aproveitando para livrar-se definitivamente do Akatsuki intrometido e ingénuo, Roumi arremessou todas as adagas na sua direção. Por sua vez, o homem via-se alvo de uma saraivada de ataques, incapaz de retaliar.
Uma explosão negra seguida por diversos relâmpagos eclodiu no local onde Arami observava, tornando-se imediatamente irrelevante para a criatura negra e Roumi, que depressa reiniciaram a sua contenda. As suas adagas revelavam-se ineficazes contra as flechas negras, que as repeliam como se nada fossem e ainda capazes de quase matar a mercenária, se esta não se mantivesse em constante movimento. Ela sabia que não podia aproximar-se demasiado do monstro, visto este ser capaz de estender ilimitadamente os seus braços e as suas forças físicas ainda não haviam sido perfeitamente testadas. No entanto, lutas a distância também pareciam ser desfavoráveis visto que aquelas flechas eram inexplicavelmente muito potentes. Então, como a derrotaria?
- Eu não queria ter de utilizar o Kirin, mas se for realmente necessário... – Pensava a loira, a sua mente um rio inesgotável de possíveis técnicas que a poderiam ajudar a derrotar a técnica negra, desaguando sempre na mesma, o Kirin – Vou ter de preparar as nuvens para isso...
Com um plano delineado, atirou apenas uma adaga na direção do seu oponente. Este previu logo que não seria atingido, ignorando o arremesso que se enterrou na areia aos seus pés. Via que a humana fazia alguns selos, mas também ignorou tal ato, uivando loucamente e apontando a sua besta para ela. Ao contrário das outras vezes, desta a besta não disparou uma saraivada de flechas, carregando ao invés uma imensa quantidade de energia negra até formar uma larga lamina.
- A tua essência... vai saber a... ouro, humana!
Disparou a enorme concentração de energia numa enorme lamina negra, que se assemelhava a uma criatura alada com devastadores asas, sinónimo de morte inevitável. Todavia, Roumi apenas sorriu. Desapareceu sem prévio aviso, a escassos segundos da sua existência ser apagada do mundo, reaparecendo no lugar da adaga que anteriormente arremessara, para espanto da criatura negra que via agora a humana deitada na areia a seus pés. Acabara também nesse momento a sequência de selos, inspirando uma densa quantidade de ar.
- Katon: Gōryūka no Jutsu!
Um enorme bola de fogo, com a forma da cabeça de um dragão, surgiu por entre as dunas, atingindo por completo o corpo da criatura negra, que rosnou em agonia. A cabeça do dragão arrastou consigo o monstro alguns metros do solo antes de deixá-lo tombar violentamente sobre o solo arenoso, continuando o seu percurso até desaparecer por entre as nuvens. Enquanto que as nuvens se alteravam, ficando mais carregadas devido aos efeitos secundários da técnica, Roumi erguia-se e observava a mancha negra, totalmente queimada, que jazia no solo arenoso.
- Se calhar, não vou mesmo precisar do Kirin... – Sorriu a Kumonin, satisfeita por não ter de esvaziar por completo as suas reservas de chakra – Agora, como é que a vou levar para Kumo?
Matutando sobre como transportaria o corpo do monstro para a sua vila, não se apercebeu de uma massa negra que borbulhava aos seus pés. Só se apercebeu quando era tarde demais, tendo apenas tempo de gritar histericamente quando uma enorme boca surgiu das profundezas da areia e a ameaçou engolir por inteiro...
- Dou Kawari! – Vociferou uma voz grossa por entre a histeria de Roumi, surgindo um braço extremamente musculado que agarrou na “garganta” da boca negra fortemente. Esta estrebuchou, dando sinais de que se engasgava e não conseguia respirar, tentando livrar-se do sufocante aperto. Por sua vez, Roumi abriu os olhos, o seu coração ainda a bater freneticamente do susto, observando um Arami, totalmente chamuscado e cheio de queimaduras ao longo do corpo, que lhe salvou a vida... – Já estou tão farto de vocês os dois! – Gritou, afastando a sua oponente humana com um potente pontapé no estômago que a fez grunhir de dor e, com o braço desocupado, empunhando a Kamitsuchi, com a qual não demorou em cravar na carne negra daquela criatura estranha – Morre, maldito bicho!
Uma sucessão de gritos estridentes invadiu o local, fazendo os ouvidos do Akatsuki vibrarem em dor, mas incapazes de quebrar a raiva dele, o forte aperto com o seu braço ou a espada que rasgava múltiplas vezes carne, espirrando sangue negro para a areia. Apesar de todos os ferimentos, que seriam mortais para algo normal, a grande boca apenas estrebuchava incansavelmente, desesperada para livrar-se daquele aperto, incapaz de fazer nada ante aquela força inumana.
Roumi pousou as mãos sobre a areia e ergueu o tronco, o seu rosto uma máscara de dor. Que pontapé incrível aquele fora... Quanta força tinha aquele Akatsuki, capaz até de prender assim a criatura negra? E porque a salvara ele? Não, ele não a salvara. Apenas foi o acaso. Se pudesse, teria morto ali mesmo a Kumonin, mas achou mais sensato acabar primeiro com a criatura negra. Ser salva por um homem machista como aquele! As suas mãos agarraram fortemente um punhado de areia. Prometera a si mesma que nunca mais seria fraca para ser salva por homem! Mas voltou a acontecer! Faíscas emanaram ao longo do seu corpo! Estava há demasiado tempo a controlar o Kirin!
Numa súbita explosão de energia, a criatura livro-se do aperto do humano, retornando para as profundezas da areia de onde viera. A alguns metros, o seu corpo inerte pareceu ganhar novamente vida, erguendo-se e apresentando, sem qualquer embaraço, o seu corpo todo queimado. Os cabelos, que pendiam a frente da cara, pareciam intactos, tendo apenas as pontas queimadas, embora as roupas em geral parecessem ter sido as mais danificadas. Num derradeiro uivo, pareceu disposta a vingar-se pelos ferimentos. No lado oposto, Roumi ergueu-se, o seu corpo uma enorme corrente de eletricidade. Desta vez, Arami não iria ficar aquém. Fartou-se de ser considerado o mais fraco daquela luta, incapaz de igualar em poder os seus oponentes. Chakra transbordou do corpo dele e aglomerou-se em grandes quantidades no solo...
O duelo parecia próximo do fim. Os três participantes preparavam as suas melhores técnicas, conscientes que aquilo seria o tudo ou nada. Todavia, um raio branco surgiu no centro, enunciando o aparecimento de uma outra mulher loira, que imediatamente estendeu ambos os braços para o ar.
- Sabaku Rō! – Gritou a nova intrusa, controlando a areia do deserto para que esta prendesse o corpo dos três, quebrando-lhes a concentração de chakra e impedindo-os de movimentarem-se – Tenham calma, meus queridos! – Pediu numa voz amável e imponente, para depois sorrir para Arami– Já tinha saudades de usar Suna num deserto verdadeiro, economiza muito o chakra...
Todos ficaram pasmados pela súbita intervenção, momentaneamente incapazes de dizer qualquer coisa. A criatura negra mexia-se nervosamente por entre a areia que a prendia, Roumi estava abismada pela habilidade daquela mulher, transportando-se para aquele local sem mais nem menos e utilizar um Ninjutsu com uma velocidade surpreendente, sendo capaz de capturar três alvos sem piscar. Só a reação de Arami é que foi diferente...
- G-gaina-sama?