Como sempre, uma densa neblina cobria todo o caminho até a sede administrativa de Kirigakure. Caminhando apressadamente, um rapaz de rosto pálido e olhos amarelados que assustavam os transeuntes distraídos, esbarrava-se com os que vinham em sentido oposto. Mas Kimura não se desculpava. Estava preocupado demais. Curioso demais. Apressado demais. De certo, aquela conversa que teria em instantes, poderia ditar o futuro de sua vida e consequentemente de sua carreira como ninja. Sentia-se sozinho, pois Katsume preferiu não lhe acompanhar para não despertar suspeitas. Sem dúvida, as pessoas envolvidas com seu pai certamente estariam vigiando cada passo que daria a partir daquela cerimônia. -
Fique em paz... - Surpreendeu-se por ter sussurrado algo que apenas pensava consigo. O enterro de sua irmã acontecera há uma semana. Naquele dia seria a cerimônia de uma semana da morte dela, e como sempre, seus pais esperavam que todos os familiares restantes comparecessem, mas Kimura não pretendia comparecer. Pois, embora triste, a busca pela verdade o consumia a cada segundo, e depois de passados alguns dias de angústias, tentando evitar os seus pais se afogando em treinos e missões, enfim decidiu partir. Mas antes, precisaria da autorização maior.
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Cheguei. - Falou consigo enquanto olhava para cima e via aquele imenso prédio, o qual não se podia ver o seu topo, pois estava mergulhado à neblina que ficava mais densa à cada metro. Recebido por uma lufada de vento fria, Kimura percebeu a aproximação de um chuunin que saía de dentro do complexo. Agasalhado com o uniforme de inverno, ele trazia uma grande cicatriz horizontal no rosto que lhe custara a visão de seu olho esquerdo. O homem pigarreou como se precisasse de um copo d´água enquanto recepcionava o rapaz que acabara de chegar. Olhando Kimura através de seu olho bom, o homem examinou seu colega de cima à baixo, e assim que reconheceu a sua procedência, fez uma careta de desagrado e consultou a lista de entrevistas folheando alguns papéis em sua prancheta de madeira. Kimura não disse nada. Ultimamente começava a se incomodar com o tratamento que recebia na Vila. Afinal, já perdera as contas de quando sangue havia perdido para manter seu estandarte, e mesmo assim ainda era tratado como um invasor, um estrangeiro. -
Certo, aqui está. - Disse o homem apontando para algo na prancheta. -
Você chegou cedo. Terá que aguardar sua hora marcada. - Completou. Kimura acenou positivamente e entrou.
Iluminado por algumas lâmpadas fluorescentes que piscavam de tempos em tempos, os corredores eram úmidos, mas muito movimentados. Enquanto subia os inúmeros degraus, frequentemente se esbarrava com um ou outro que descia em disparada. Seu coração disparava. Sua boca começava a ficar ressequida. Suas mãos tremiam levemente. E a cada metro conquistado, o jovem chuunin se via mais perto de seu destino. Mesmo que faltassem ainda alguns minutos de espera. Então, após uma penosa subida, Kimura alcançou o último andar do prédio, onde alguns jounins faziam a segurança de Okashii, o Mizukage. Estavam num corredor estreito, de pé, cada um de um lado da grande porta de madeira. Eles o olharam com frieza assim que cruzou a viga de entrada. Kimura novamente preferiu esconder sua ansiedade e apenas acenou discretamente, enquanto se aproximava e se sentava numa das cadeiras que, opostas à porta, serviam para que os que programaram uma audiência aguardavam sua vez. Kimura não escutava muita coisa do que era dito lá dentro. Ouviu alguma discussão e logo a porta se abriu, donde saíram três genins apressados, segurando alguns papéis e canetas. Todos eles olharam a figura sentada à sua frente e então um deles falou seriamente: -
O kage o aguarda. Pode entrar.O coração de Kimura aumentou de velocidade. Tentou engolir a saliva para satisfazer sua garganta totalmente seca, mas não havia nenhum sinal de líquido em sua boca. Estava muito nervoso, até que entrou na grande sala com suas janelas panorâmicas, a grande mesa e a poltrona vazia. Okashii esta de pé na janela da esquerda, olhando para o vazio enquanto seu cabelo movia-se com a brasa úmida que banhava a Vila naquela manhã. -
Sente-se. - Falou o kage com toda a imponência que seu cargo lhe impunha. O jovem chuunin cambaleou até uma das cadeiras em frente a mesa de madeira e a arrastou para se aproximar de sua borda quando Okashii se virou e o olhou profundamente com seus olhos azuis. -
O que fazes aqui jovem Kimura do clã Hebi? - Disse num tom mais natural, sem dúvida percebendo o nervosismo do rapaz que ali estava. Kimura abriu a boca, mas não conseguia pronunciar nada. Sua boca seca lhe traíra e agora mapeava a sala à procura de alguma jarra que poderia lhe ser útil para matar sua sede nervosa. Mas não demorou até que o kage baixou a mão, trazendo para cima da mesa uma pequena jarra com água numa bandeja de madeira, onde dois copos descansavam. Enchendo-os com educação, Okashii serviu o garoto e o acompanhou, levando o copo à boca.
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Mas então, rapaz, o que o traz aqui? - Repetiu a pergunta.
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Precisosairdavilaportempoindeterminadosenhor. - Respondeu Kimura.
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Desculpa-me. Não entendi. - Falou sorridente.
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Senhor, precisarei me ausentar por algum tempo de minhas funções. - Disse ao conseguir organizar as ideias.
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Sua irmã faleceu há uma semana, não? - Disse agora seriamente.
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Sim senhor. Não estou tendo condições de sair em missões por enquanto.-
Entendo. E por quanto tempo será sua ausência? - Perguntou Okashi ao buscar um pergaminho na gaveta.
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Um mês talvez. Ou um pouco mais. Pretendo sair em viagem. - Disse o jovem tristemente.
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Tudo bem então. Leve esse pergaminho consigo. Apresente-o no portão principal. - Disse-lhe entregando o objeto.
Kimura conseguiu conter sua alegria por ter seu pedido aceito. Já estava ansioso para começar sua jornada para a verdade. Ficou pensando o que aquelas coordenadas na fotografia que sua irmã havia confiado a Katsume, e em como avisaria isto a seus pais sem despertar suspeitas. Eram tantos os preparativos que não percebeu que o kage já estava à porta, abrindo-a num sinal de que já estava em tempo do rapaz sair. Outra pessoa já aguardava no lado de fora. -
Desculpe-me, senhor. - Disse Kimura ao se levantar da cadeira às pressas, dirigindo-se apressadamente para descer as escadarias e assim perder-se na névoa em direção à casa. Enquanto isso, Okashii pedia mais um momento ao próximo entrevistado e voltara a fechar a porta atrás de si. Dirigindo-se até a sacada, uma kirinin com a máscara de gato surgiu de um shunshin, numa posição de reverência. -
Pois não, senhor. - Disse a mulher cuja voz abafada pela máscara indicava tranquilidade. O kage permaneceu calado por algum momento vislumbrando a névoa que já começava a diminuir de densidade, onde fitou Kimura numa das ruas da Vila. -
Como previsto. O clã Hebi está se movimentando. - Sussurrou para a ANBU. -
Siga o filho mais novo em sua viagem com discrição. E me envie o relatório sobre tudo. – Completou ainda em voz baixa.
Acenando positivamente, a mascarada efetuou mais um shunshin e se perdeu na névoa...
CONTINUA