- Prólogo – A Lenda da Princesa Sakura
- Capítulo I – O Início
- Capítulo II – Jantar
- Capítulo III – Fujikawa Hideaki
- Capítulo IV – Fujikawa Ichiro
- Capítulo V – Casa de Máquinas
Capítulo VI
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Fujikawa Keigo
_ Ficaram sabendo que Kugo-san e toda sua família morreram? – pergunta um funcionário sentado à grande mesa do refeitório da Companhia Fujikawa.
_ Sim, meu primo trabalha na polícia, ele viu as fotos dos corpos e não pareciam acidentados. Com certeza foram mortos. – comentou o outro homem que logo levava uma colher com iogurte à boca. Atrás deles passava Keigo que sempre fazia suas refeições junto com os outros trabalhadores, o jovem tinha ouvido tudo e enquanto se dirigia à um lugar vago se controlava diante dos olhares de todos que detestavam o Clã Fujikawa.
_ Já falei para não fazer as refeições com esses pobres. – diz Hideaki a cochichar no ouvido do irmão, surpreendendo-o.
_ O que você quer? – pergunta Keigo .
_ Calma, Keigo-kun, estás muito revoltado hoje. – falou o irmão a sorrir e sentar-se ao lado dele.
_ Vamos comer na sala destinada aos chefes, ou pelo menos na área administrativa, aqui tem muito operário do nível mais baixo, estão a exalar um aroma nada agradável. – reclamava o segundo filho sem se preocupar se estavam a ouvir, pouco se importava.
_ Não, obrigado. – responde o irmão.
_ Keigo-kun... o que está a te incomodar tanto? – pergunta Hideaki a apertar a bochecha do irmão.
_ Há rumores que papai está por trás do assassinato de um dos nossos funcionários e de toda a família. Só falam disso aqui no refeitório. – falou Keigo em voz baixa, estava visivelmente abalado.
_ Hmm... acho que o “papai” – dizia ele a brincar com o modo que Keigo chamava o pai dentro da empresa –
não sujaria suas mãos com esses assuntos. E se Fujikawa-dono tiver feito isso com certeza foi pelo bem da empresa e para manter nosso estilo de vida. – sorriu Hideaki a tentar acalmar o irmão, mas ao contrário tinha deixado ele revoltado.
_ Para você seria plausível fazer coisas do tipo pelo bem da empresa? Ou ainda para manter o alto padrão de vida? – pergunta Keigo a segurar na gola do irmão fortemente e olha-lo nos olhos.
_ Responda! – diz ele um pouco mais alto a chamar atenção de todos no refeitório.
_ Que coisa feia... Keigo já não basta comer com essa gente, agora queres agir como eles? Coloque-se no seu lugar, és o filho do presidente da empresa. – fala Ichiro, o irmão mais velho a aparecer.
_ Estás aqui enquanto todos falam mal de você e olham com desprezo, não és bem vindo nesse lugar, estás a incomodar os funcionários com sua presença e estás a incomodar você mesmo com essa imposição idiota que fez. – e o irmão dá um sermão.
_ Keigo-kun, você pode se achar diferente de nós, mas para todos esses funcionários você não passa de um Fujikawa, eles te odeiam tanto quanto odeiam Ichiro-san e eu, ou ainda tanto quanto odeiam nosso pai. – sorriu Hideaki a jogar a verdade na cara do irmão. O jovem se levantava e ficava ao lado do irmão mais velho.
_ Keigo, esperamos você na sala de reuniões daqui vinte minutos. – diz Ichiro a se retirar e ser seguido por seu irmão. Todos ainda olhavam para Keigo, embora não ouvissem bem o que diziam era perceptível que um conflito acontecia entre os irmãos Fujikawa. Por fim Keigo arrasta sua bandeja a joga-la no chão, se levanta e sai do refeitório onde não planejava mais voltar.
(...)_ Keigo-kun? – assusta-se Aika ao ver o amigo entrar pela porta da sala. A garota lia um dos romances da extensa coleção de livros da falecida senhora Fujikawa.
_ O vento e o tempo. Mamãe adorava esse livro. – sorri de forma estranha Keigo após ver a capa do livro.
_ Keigo-kun, o que houve? – pergunta a garota a fechar o livro, deixa-lo na poltrona e ir até o jovem que não parecia nada bem.
_ Nada não, estou bem. – dizia ele a subir as escadas devagar.
_ Bem? Tsc, olhe como estás, não és o Keigo-kun que conheço. – fala a garota que via o olhar caído e o andar arqueado de Keigo até o quarto.
_ Não precisa se preocupar, só vou me deitar um pouco, tive uma reunião chata agora cedo. – fala ele a entrar no quarto e fechar a porta na cara de Aika. Ela fica paralisada com tal atitude, ainda mais vinda dele, Keigo nunca faria algo como aquilo. Permanecia no corredor de olhos arregalados, paralisada, até que num impulso abre a porta.
_ Keigo-kun!!! – diz ela firmemente, pronta para brigar com o jovem, mas a cena que via a deixara totalmente desarmada. Keigo estava sentado na cama, com a cabeça escorada nas mãos e era possível ver lágrimas escorrerem por entre seus dedos, a mão tentava tampar toda a dor e amargura, mas não conseguia.
_ Aika-chan... – murmura ele até que começa a chorar alto e descontroladamente.
_ Keigo-kun... – fala ela com os olhos cheios de lágrima, senta-se na cama e acolhe Keigo em seus braços.
_ Eu não quero mais isso, não quero trabalhar na empresa, não quero ser um Fujikawa, não quero viver nesse país que só tem pobreza, não quero ver gente sofrer, eu só quero ser feliz. – chorava ele amparado pelo confortável abraço da garota.
_ Keigo-kun. – dizia Aika séria.
_ Conseguirias viver em qualquer outro lugar do mundo a saber que há pessoas aqui sofrendo? Conseguirias sorrir enquanto sabes que há crianças que não tem o que comer aqui? Conseguirias mesmo ser feliz ao saber de tanta coisa errada nesse mundo e não tentar fazer nada para melhora-lo? É isso mesmo que você pensa? Se for isso acho que me enganei totalmente com você, não és o Keigo-kun que conheci. – diz Aika ainda a abraçar Keigo, o jovem agora se calara e apenas as lágrimas continuavam a escorrer pelo seu rosto.
_ Aika-chan, estou feliz que estejas aqui. - fala Keigo a sorrir e logo depois fechar os olhos. Após alguns minutos sua cabeça repousava nas coxas de Aika, dormia tranquilamente depois de colocar todo sofrimento para fora, as lágrimas secas marcavam o rosto do mais novo dos Fujikawa. Arfre, o mordomo, espia pela porta semi-aberta Keigo deitado a receber de Aika um leve carinho na cabeça, o velho dá um sorriso terno e se retira.